Eu tenho escrito bastante neste blog. Já são mais de 500 postagens em 10 anos de permanência no ar, online. Mas, quer saber, isso não significa muita coisa em termos de popularidade.
Vou ser honesto: creio que menos de 15 mil pessoas chegaram a acessá-lo neste tempo todo. É importante entender que quando digo "este blog" refiro-me ao seu conteúdo como um todo. Na verdade, o conteúdo todo não está disponível somente no Blogger. Eu faço uma cópia do blog em formato PDF e posto no Scribd e no Bookess. E tem uma parte mais antiga deste blog, escrita antes de 2010, que ficou no UOL Blog, e eu não dou mais manutenção, embora as pessoas ainda possam acessar o material, que ainda está lá. Há ainda uma pequena parte dele que eu traduzi para o inglês, embora não possa garantir que tenha mantido o mesmo sentido, o mesmo espírito dos textos originais. De qualquer maneira, são cinco endereços diferentes por meio dos quais as pessoas podem acessar o conteúdo desse blog, ao todo ou em parte. Como podemos acompanhar o tráfego de pessoas em nossos endereços virtuais hoje em dia, então eu posso dizer sem medo que não chegou ainda a 15 mil o número de pessoas que tiveram acesso ao conteúdo deste meu blog.
Agora, vai aqui uma tentativa de entender o que esse número significa, e a quais conclusões podemos tirar a respeito dos blogs, da internet e da comunicação humana em geral.
Primeiro, garanto que nem todas as visitas registradas são realmente de seres humanos. Há um sem-número de sites maliciosos que usam robots para fazer visitas que não leem nada, apenas acrescentam um algarismo a mais nos contadores de visitas dos nossos blogs, e isso infla a percepção de que estamos sendo lidos, entendidos e lembrados. Então, acho que posso reduzir o número de visitantes a algo em torno de 10 mil pessoas, sendo o resto apenas meras visitas de mentirinha.
Então, 10 mil visitas em 10 anos corresponde a algo em torno de 3 visitas diárias.
Em um mundo com 7 bilhões de pessoas, é muito pouco. Está certo, apenas uns 250 milhões compreendem o português dos textos, mas ainda assim, é pouco. Acho que desses 250 milhões de pessoas que sabem ler na língua portuguesa, apenas uns 20% possuem acesso à internet, o que daria algo em torno de uns 50 milhões de leitores potenciais. Mas, ainda assim, é muita gente, muita gente que não está nem aí para o meu blog.
Mas, indo além, afirmo que dessas 10 mil visitas registradas, pelo menos 15% o fizeram apenas para ler um único texto, uma única postagem, a que se chama "tag violado", e que se refere a um assunto que apenas tangencialmente tem relação com coisas que me interessam e que eu gostaria de escrever neste blog. Definitivamente, não gosto de carros e só falei sobre o assunto dos problemas com nossos carros nos pedágios por mera curiosidade.
Sim, eu poderia dizer "eureka!" diante do fato de saber que há bastante gente interessada em problemas com pedágios, e a partir desse fato, passar a captar mais audiência escrevendo mais sobre outros problemas correlatos, isto é, escrevendo sobre carros. Mas eu me recuso a pensar que eu deva escrever sobre um assunto que não me interessa apenas porque há demanda para esse tipo de assunto. Se eu fosse me guiar por essa linha de pensamento, eu poderia tornar este um blog pornô. Mas não me curvo a este tipo de apelo, o apelo da audiência sem levar em conta o apelo de meus próprios interesses, que considero mais dignos do que pornografia ou carros.
Eu entendo o interesse do mundo pelos carros. E eu entendo a razão do sucesso desta postagem que tem feito algum sucesso neste blog. Simplesmente dei sorte de tratar de um assunto que a empresa que administra as rodovias e seus pedágios não dá a devida atenção. E tenho certeza de que no dia em que essa empresa resolver fazer um trabalho decente e prestar um serviço de suporte ao usuário com um F.A.Q. (frequently asked questions), um tira-dúvidas bem elaborado, o número de pessoas interessadas em meu texto sobre pedágios irá desabar. Isso ocorrerá mais dia, menos dia.
Há uma quantidade de postagens que nunca foram lidas! Nunca ninguém sequer viu o que há nelas. Em outras palavras, eu estou escrevendo para ninguém!
Uma outra conclusão a que posso então chegar é que as pessoas não se interessam tanto assim por blogs. Quer dizer, um blog não fica popular apenas por existir durante anos a fio na internet. E um blog não ganha popularidade por ter um número grande de postagens. É possível, e eu já vi, blogs com meia dúzia de postagens com um número absurdo de visitantes. Então, idade e tamanho não são documentos quando o assunto é blogs.
Mas, meu objetivo não é popularidade. Claro, eu gostaria de ter muita gente lendo meus textos, mas eu admito, lendo-os, que eles não contribuem para se popularizarem.
Vou explicar isso melhor.
Eu disse a muito tempo atrás que escrevia por mero prazer de escrever. Mas as pessoas também têm suas próprias razões para lerem o que quer que seja. Eu, no momento em que torno público um texto meu qualquer em um blog na internet, tenho que ter a plena consciência de que estou tornando-o público. Se espero ou não que as pessoas leiam é outra coisa.
Se quiser que elas não leiam, então bastaria não torná-los públicos. Eu escreveria em um arquivo que não estaria disponível ao mundo via internet, e ainda assim poderia dar vazão ao meu desejo de escrever por mero prazer.
Mas, já que resolvi publicar o que escrevo em um blog, não posso jamais perder de vista que há duas possibilidades pelas quais as pessoas poderiam ser levadas a ler alguma coisa na internet: primeiro, para aprender, tirar alguma dúvida, obter algum conhecimento, alguma informação útil, alguma notícia em um formato diferente do das mídias habituais, alguma ajuda para algum problema em particular. Segundo, para passar o tempo, para se divertir, para se entreter, para se emocionar, para apreciar o estilo do autor, a estética literária, apreciar a criatividade, a ousadia, o humor, a fantasia de um enredo, um enredo surpreendente, ou ainda ter acesso a uma ideia fora do comum, ou dentro do comum, mas dita de maneira incomum, sobre um assunto que desperte algum interesse, ainda que remoto e tangencial.
Ninguém tem interesse em ler sobre a minha vida pessoal. Ninguém tem interesse em saber que filme assisti, o que comi ou que roupa uso, assim como eu tenho pouquíssimo interesse em saber o que assiste, o que come e o que veste um estranho qualquer que posta sobre suas preferências na internet em blog anônimos mundo afora.
Mas eu tenho interesse em certos assuntos que certamente também são alvo da atenção de muita gente mundo afora.
Ora, uma das razões pelas quais as pessoas não chegam a visitar este blog é porque eu não escrevo nem pensando em ser útil a meus leitores, e nem pensando em entretê-los. Por que haveriam de ter algum interesse outro que não esses dois?
O título deste post é "difusão intelectual" porque esta é uma das razões pelas quais um blog pode ser escrito.
É certo que nem todo mundo na internet tem interesse em aprender sobre temas elevados, complexos, profundos ou simplesmente repensar coisas comuns sobre um ponto de vista personalizado e diferente. Mesmo que eu escrevesse sobre um determinado assunto com o objetivo de divulgar um ponto de vista pessoal sobre ele, ainda assim não teria grande popularidade. Uma ideia, um conceito, um tema qualquer que pode ser objeto de discussão em um texto de um blog não tem o mesmo apelo popular que tem uma foto pornô, um novo modelo de carro ou um jogador de futebol. E eu particularmente não tenho mérito pessoal algum que torne meus textos mais dignos de serem lidos do que o de, digamos, uma apresentadora de um programa de televisão que entende tudo de culinária, mas, por livre escolha, resolva falar de um assunto outro qualquer, como eleições ou a descoberta de um novo planeta. Mesmo uma bobagem dita por uma celebridade tem seu apelo e sua atratividade. Os James Francos e suas fotos idiotas prevalecem, apesar de tudo.
Assim, peco por ignorar as necessidades e desejos de meus potenciais leitores. Peco por não usar daquilo que sei sobre como administrar as coisas, esquecendo-me que sou um curioso profissional da administração. E peco por ainda assim, esperar que, corrigindo todos os demais pecados, ainda poderia ter um público razoável e sensato. Não, a difusão intelectual, a troca de ideias é assunto de pouco apelo, e jamais serei um sucesso, escreva eu sobre o que bem entender, com as melhores das intenções, sobre os mais nobres e profundos assuntos. A massa, esta preferirá o sexo, o novelesco, o ídolo oco, o herói pré-fabricado, o último bochicho sobre uma celebridade qualquer.
Difusão intelectual. Fixe esta palavra.
É sobre ela que falarei no próximo post.
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