quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Azar sistemático?

Li a dois dias atrás uma frase reveladora em um post do Facebook que tem-me feito pensar. Pesquisei sobre quem poderia ser o autor da frase, que no Facebook é atribuída a Ian Fleming, o autor de James Bond.

A verdade é que a frase é de um personagem de Fleming, Goldfinger, que, em determinado momento do livro, ou do filme, não sei dizer, adverte astutamente um ingênuo James Bond:

"Mr. Bond, uma vez é acaso, duas vezes é coincidência, três vezes é ação do inimigo."

Pausa...

No instante em que a li, tive um lampejo de lucidez sobre algo que me era obscuro, mas que eu conseguia perceber tenuemente no desenrolar das coisas. Fleming deu precisão e clareza para algo que eu sentia vagamente como uma perturbação, mas que não tinha nome nem rosto.

Agora, essa perturbação tem identidade: o inimigo.

Vamos refletir um pouco mais sobre a veracidade ou não da frase.

Pausa novamente...

O estudo da sorte e do azar é uma tarefa que tem gerado abundantes e curiosíssimos estudos mundo afora. Os casos de azar sistemático existem, mas são tão bizarros, tão incomuns e tão curiosos que viram anedota, tornam-se casos de estudo probabilístico e por fim, viram lenda. Fora isto, nossas dificuldades são quase sempre frutos de algo que Fleming chama de "inimigo".

Eu entendo aqui o termo como um ente despersonalizado. Não sei o contexto dentro do qual a frase foi tirada, por isso, penso que Goldfinger possa estar referindo-se a uma pessoa ou grupo em particular. Mas dentro de um contexto genérico e mais amplo, podemos considerar como "inimigo" qualquer forma de obstáculo que freia, bloqueia ou impede nossas ações reiteradas de maneira sistemática, de forma que devemos deixar de olhar o obstáculo em si e pensar em uma força, uma vontade inteligente por trás do obstáculo, de forma a poder melhor identificarmos causas e razões que levariam este "inimigo" a nos bloquear.

Tem alguma coisa a ver com o tema marxista do "opressor" e do "oprimido", mas não é a mesma coisa. Prometo que farei uma análise mais detalhada dessa ligação, mas não agora.

De qualquer forma, a frase insere uma pitada de sabedoria ao meu modo de ver as coisas que parece-me uma trilha, uma heurística mental promissora.

As coisas não estão dando certo? Então foi por mero acaso. Tente novamente...

Deram errado novamente? Coincidência, azar, pé frio, tudo bem, isso justifica toda a frustração e irritação, mas, mais uma vez, tente novamente...

Deram errado novamente? Bingo! É hora de parar, estudar o caso e procurar, nas sombras, o vulto que está colocando as pedras no caminho. Por quê? Com que objetivo?

Essas perguntas e suas respostas valem ouro, e o mero afastar do acaso e azar como causas de nossas derrotas nos permite dar um passo para trás, ou adotar uma visão panorâmica do terreno, e então, munidos desta nova perspectiva, podemos fazer uma nova tentativa, certamente mais frutífera, com uma nova abordagem, com mais chances de termos sucesso.

Você tem tido sorte nos negócios? Tem perdido sistematicamente na bolsa de valores?

Você é azarado?

Você não é o único...

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