sexta-feira, 8 de junho de 2012

Socializar-se para quê?

Eu disse no meu primeiro post que este blog teria a função de divulgar minhas ideias, histórias, sonhos e teorias para o mundo, e que isso era apenas uma questão de socialização.

É verdade que somos seres sociais e que não gostamos de viver isolados. Mas é verdade também que somos seres que prezam a privacidade. Então, há pessoas mais sociáveis e há pessoas menos sociáveis. 

Tem muita gente que não gosta de saber da vida dos outros, das ideias dos outros, dos sonhos e histórias de quem quer que seja. Dizem: "cada um que cuide de sua vida, que eu cuido da minha". 

Mas são em geral pessoas casadas, que assistem televisão, se interessam pelas notícias, leem jornais e trabalham em locais rodeados de pessoas. São apenas pessoas que por temperamento preferem mais o isolamento que a socialização. Preferem mais o silêncio que a comunicação.

O isolamento tem suas vantagens. Não são muitas, mas elas existem.

Há pessoas ainda que vão além e se pudessem, viveriam como eremitas.

E por fim, há aqueles que militam firmemente para que sejamos todos eremitas, que cada um cuide de sua vida, para que haja a volta de um tempo em que os homens eram independentes e livres do apoio de qualquer coisa que usamos em nosso mundo moderno. Muitos pregam o fim do Estado, o início, ou retorno, a uma situação de anarquismo cujo resultado é a privacidade, o isolamento, a independência e a vida simples, onde se é aparentemente livre para tudo se fazer, como se isolamento e liberdade fossem uma e mesma coisa.

É verdade que num mundo onde não há ninguém para nos patrulhar, podemos fazer o que bem entendermos.

Acontece que os eremitas são raros.

E eles são raros exatamente porque um ser humano não pode viver muito tempo sem a presença de outro. Não é uma questão de gostar ou não gostar de contato humano. É questão de que um ser humano isolado é um animal frágil e indefeso, ainda que tenha uma longa barba branca e muita experiência de vida.

Nós não nos socializamos por prazer, mas por necessidade. Um eremita que se propusesse tornar-se independente de toda sociedade viveria como um homem das cavernas. Teria de caçar e plantar usando de seus próprios recursos, fazer seus utensílios com base apenas em recursos da natureza, porque, afinal, mesmo uma mera, mas útil, faca de metal seria um auxílio do qual ele, o eremita independente, teria de abrir mão, porque mesmo uma faca de metal é muito difícil de ser feita pelas mãos de um único homem. Ele, o eremita, teria de viver de objetos feitos de madeira, ossos, pedra e argila. 

Afinal, não se pode ser muito honesto cuspindo em uma sociedade e rejeitando-a, mas, por uma questão de conveniência, usar de sua ampla e eficiente tecnologia, correto? Um eremita honesto teria de abrir mão também da tecnologia da sociedade, e não somente do convívio com a sociedade. Do contrário, seria um mero aproveitador oportunista. Mas eremitas são todos honestos, suponho, e viveriam do próprio suor, e da obra de suas próprias mãos. Pedras, ossos, madeira e argila.

Mas o homem já viveu assim por milhares de anos. Esse modo de viver não nos é estranho.

A estimativa de vida desse modo de viver era de 18 anos. Um humano com a idade de 25 anos seria considerado um homem de sorte. Desses 18 anos, ele seria protegido por 14 anos, no mínimo, pelos seus progenitores. Entregue a si mesmo depois da puberdade, como o são todos os animais, um homem teria apenas quatro anos de sobrevida.

Viver sozinho nunca foi fácil. Não acredito que um eremita moderno possa viver mais que uns quatro ou cinco anos sozinho de verdade. Uma simples dor de dente o mataria em poucos dias.

Mas hoje não temos grandes ameaças, a não ser nós mesmos.

Nós somos nossos piores inimigos. Eu tenho mais medo de um ser humano do que de uma cobra, um leão ou de um urso. Nunca vi nenhum animal perigoso fora de um zoológico nestas minhas quatro décadas de vida, embora tenha corrido risco de morrer incontáveis vezes em função da ameaça de outros seres humanos. Você nunca sabe quando alguém te olha como um alvo em potencial, afinal de contas.

Não era para ser assim.

Em muitos locais, as coisas não são realmente assim.

Eu não gosto muito de me socializar. Sou caseiro, quieto e tenho poucos amigos. Não preciso realmente me envolver muito com as pessoas. Não corro nenhum perigo imediato, aparentemente. Então, por que socializar-se?

Não é melhor calar-me, recolher-me no silêncio confortável do meu lar e deixar esse blog de lado?

Afinal, por que socializar-se desta forma?

Eu tenho pensado longamente sobre as vantagens e as desvantagens da socialização. Eu tenho pensado.

Ah! Esse canto sedutor do eremita egoísta... como ele é fascinante!

Isso lembra o mito das sereias?

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