quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A vida departamentalizada

Eu disse aqui que não sabia escrever sobre um assunto o qual não dominava. Na verdade, tenho a impressão de nunca dominei assunto algum a ponto de ter o conhecimento suficiente para escrever um livro, mesmo que elementar.

Eu não era capaz de escrever um livro de autoajuda, embora já tivesse escrito um pequeno romance, que pela própria essência dos romances, é pura ficção, e portanto, não demanda muito conhecimento sobre um determinado assunto. Claro, essa minha situação de não saber escrever sobre autoajuda foi em 2001, o que quer dizer que essa é uma dificuldade já passada. Hoje, sei bastante coisa sobre o tema, embora não pretenda escrever um livro de autoajuda.

Então, eu sabia que não poderia escrever um livro, mas já tinha algumas ideias em mente sobre autoajuda. Uma das coisas que eu pude perceber lendo três ou quatro livros sobre o tema foi que por vezes eles, os autores, falavam dos mesmos assuntos, embora de maneiras diferentes. Eu informei esse achado aqui, e devo confessar que até então, eu era um leitor amador, um crédulo, e por isso não era capaz de perceber ou tentar achar eventuais falhas naquilo que eu tão inocentemente lia.

Eu descobri a ideia de tratar nossa vida como um grupo de áreas, isto é, eu li em dois livros diferentes, de dois autores diferentes, que deveríamos dividir nossas vidas em partes afins, para melhor poder gerenciá-las. Eu achei a ideia interessante.

Eu não precisava escrever um livro de autoajuda. O que eu precisava era aprender coisas com os livros de autoajuda. O que eu precisava era tirar proveito deles. Minha intenção era mudar minha vida, e não escrever livros sobre como mudar a vida dos outros.

Pensei um pouco na ideia da vida departamentalizada e resolvi que deveria adotar a ideia. Deveria passar a pensar em minha vida em termos de áreas como família, finanças, lazer, trabalho, saúde, educação, etc.

Pois bem, eu sabia que ninguém possui vidas perfeitas. Ninguém pode dizer que está absolutamente satisfeito com tudo. Sempre se pode melhorar alguma coisa na vida. Mas melhorar o quê? Ora, se nossa vida deve ser departamentalizada, então devemos pensar em melhorias também de maneira departamentalizada. A pergunta não é sobre o quê devo melhorar em minha vida. É sobre o que melhorar em qual departamento de minha vida.

O que precisa ser melhorado em minha vida financeira? E em minha saúde? E em minha vida social?

Eu não queria fazer um diagnóstico dos problemas do mundo. Eu precisava fazer um diagnóstico dos meus problemas, meus próprios problemas. Mas, com a vida departamentalizada, ficaria mais fácil fazermos um diagnóstico de nossas satisfações e insatisfações.

Então, pensei em começar um questionário para eu medir a minha satisfação, ou insatisfação. Sem demora, comecei a redigir em minha Agenda 99 uma lista de perguntas, relacionadas com uma área de minha vida, e que comporia meu questionário pessoal. Transcrevo abaixo o que escrevi em minha agenda:

"Questionário de satisfação - crescimento pessoal:

1 - Eu estou satisfeito com o meu atual nível de instrução e educação formal?

2 - Eu sinto que tenho me tornado uma pessoa melhor sob o ponto de vista cultural e intelectual com o passar dos anos?"

E parei nesta segunda pergunta.

Duas meras perguntas não formam algo que possamos chamar exatamente de um questionário. Foi, na verdade, apenas uma tentativa de se elaborar um questionário.

Por que não fui em frente?

Não fui em frente simplesmente porque as duas perguntas acima referem-se a uma área específica de minha vida, que resolvi chamar de "crescimento pessoal". O que me fez interromper a elaboração do questionário foi a percepção de que eu não tinha definido primeiro quais seriam as outras áreas que deveriam compor o restante de minha vida.

Certo, crescimento pessoal poderia ser uma área legítima de vida, mas e quanto ao resto? Quais seriam as outras áreas?

Eu não poderia fazer um questionário somente da área de crescimento pessoal?

Achei que não, porque mesmo uma única área pode implicar em um número bastante grande de perguntas e fontes de insatisfação. Eu poderia, ao elaborar mais e mais perguntas, inadvertidamente me ver embrenhando em áreas outras que não mais envolvessem crescimento pessoal. Mas, como saber que estou ou não tratando de crescimento pessoal se não sei quais são as outras áreas, que poderiam fazer limites com a área de crescimento pessoal?

Sem uma divisão inicial de minha vida em um número definitivo de áreas, não faria sentido prosseguir com a elaboração de um questionário.

Então, tratei de fazer essa divisão prévia.

Como dividi minha vida, ou quais áreas criei para ela?

É o que veremos no próximo post.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Priorização de tarefas

Resolvi atacar este tema.

Depois de anos de muita confusão mental, resolvi achar o fio da meada de um problema intelectual que tem desafiado gerações de escritores. Estou determinado a dar uma solução definitiva ao problema. Se conseguir, terei feito um grande favor a mim mesmo e ao mundo.

Este blog certamente apresentará em primeira mão os meus desenvolvimentos a respeito do tema.

Se o assunto parece banal, isto é apenas em função de que as pessoas normalmente não param para pensar sobre um monte de coisas que estão intimamente relacionadas ao tema. Mas eu parei e pensei, e sei, e espero ser capaz de convencer quem pensa diferente, que o tema é muitíssimo interessante e urgente e, em função disso, digno de ser enfrentado.

Como não cheguei ainda a uma solução satisfatória para o problema, não posso garantir que o solucionarei. De qualquer forma, sinto intuitivamente que o solucionarei, e isto é o que importa.

Enfrentar os problemas realmente importantes: eis umas das grandes coisas a se fazer nesta misteriosa e curta vida que Deus nos deu.

Emma

Emma e o nome de minha mais nova e pequena amiguinha: uma calopsita.

Nosso vizinho viajou com a família toda no final do ano passado e ficamos com Emma e com Mel, a cachorrinha, por algumas semanas. Mel foi logo para a casa dos donos assim que eles retornaram, mas Emma ficou, porque eles planejavam uma nova viagem alguns dias depois e, bem, era melhor deixar ela quieta em casa. Por fim, Emma foi ficando, ficando, ficando. Então, agora ela quase faz parte da família.

Impressionante como ela tem impactado nosso modo de vida e maneira de pensar.

Ah! Ela machucou a língua. Que coisas interessantes decorreram desse aparentemente pequeno acidente!

domingo, 19 de janeiro de 2014

Escrevendo coisas ao longo da vida

Eu disse certa vez aqui que também certa vez no passado eu escrevera um livro.

O que tenho a dizer agora a respeito do fato de ter escrito um livro a muito tempo atrás é que ao tocar neste assunto aqui neste blog, eu o fiz para lembrar a mim mesmo que escrever é para mim uma coisa muito íntima e familiar.

Quando eu me referi ao fato de ter escrito um livro, eu fazia referência a um livro que de fato publiquei no ano de 1996.

Esse livro e sua publicação merecem um texto adequado, é certo, mas eu preciso dizer primeiro que antes de publicar este livro, que dei o título de Zago, eu já vinha escrevendo minhas coisas desde 1987.

Quer dizer, eu comecei a escrever minhas coisas quando tinha a idade de 17 anos, e não parei mais.

O que tanto escrevi nesses anos todos?

Que valor tem esses escritos para mim e para o mundo?

Não sei. Talvez nenhum valor maior do que o sentimento de realização que nos proporcionam as nossas pequenas e mundanas realizações, e que só significam algo para nós mesmos, e mais ninguém. Que seja.

Não escrevi tanto assim. Escrever dá trabalho, e não dá dinheiro, e não dá nada mais que algum prazer passageiro, mas somente depois de algum tempo, depois que nos esquecemos daquilo que escrevemos, e relemos nossas coisas com os olhos de estranhos, e ainda assim, é possível que nem prazer nos dê, mas sim vergonha e humilhação desnecessárias e evitáveis.

Como não sentir vergonha daquele poema bobo que escrevemos a vinte anos atrás, e que hoje nos parece tão feio, tolo, desnecessário? Por que tivemos a arrogância, a audácia de nos metermos a escrevê-lo, se não somos, e sabemos não ser, poetas, e nem ter na veia o sangue poético que leva os verdadeiros aspirantes a poetas a escrever, escrever, escrever, até que seus poemas não sejam tolos, ridículos, desprezíveis?

Mas, enfrentemos a vergonha. Escrever é preciso.

Eu não acho que seja um bom escritor. Nem acredito que seja escritor. Eu sou uma pessoa que foi obrigada a aprender a escrever, e isso não significa de modo algum que eu tenha aprendido a minha obrigação. Mas, achei o ato de escrever um passatempo gostoso. Não sei se escrevo bem, mas gosto de escrever.

Às vezes escrevemos coisas razoáveis. Às vezes nos metemos a falar de coisas que não conhecemos, apenas porque temos a oportunidade de colocar no papel algo que pode ser colocado no papel. Afinal, papel aceita tudo, inclusive divagações sobre aquilo que não conhecemos. É certo que o papel aceitará nossas ideias bobas, frágeis, desconexas, simplórias, amadoras. Mas não seremos poupados de reconhecer nesses escritos a bobagem, a fragilidade, a simploriedade e o amadorismo que fluiu de nossas penas simplesmente porque nos metemos a escrever sobre aquilo que não conhecíamos. Eu às vezes tenho vergonha do meu blá-blá-blá literário, e pseudo-literário, e não posso negar que reconheço o quão mal já escrevi, se é que ainda não escrevo.

Mas, não vejo no ato de escrever mal um pecado. Escrever é uma habilidade que se aprende, e mais se aprende quanto mais se escreve, e por isso tenho me esforçado a escrever o mais que posso. Quando leio algo que julgo ter escrito bem, fico orgulhoso de mim mesmo, e isso me basta. Escrevo para mim mesmo, e se leio e gosto do que escrevi, dou-me por satisfeito. Mas não no momento mesmo em que acabo de escrever.

Não. Escrever tem dessas coisas. Um texto é como um quadro, uma pintura. Precisamos dar uns passos para trás e olhar a nossa pintura de longe para podermos tê-la em perspectiva tal que possamos contemplá-la em um conjunto, e não apenas olhá-la de perto, da distância que comumente tomamos para pintá-la, porque então estamos saturados da imagem que constantemente temos diante de nós ao longo de todo o tempo em que levamos para pintá-la, e por isso, tal perspectiva, tão próxima, tão pessoal, tão íntima, não nos provoca nenhuma sensação de beleza, que é a que buscamos, mas apenas a de cansaço, de exaustão, de repetição.

Com um texto, o espaço se transmuta em tempo, e precisamos deixar que este corra para que possamos nos desintoxicar daquilo que escrevemos, e maior o tempo exigido se maior for o texto sobre o qual nos debruçamos para construí-lo. Escreva mil páginas, e precisará de mil dias para podê-las contemplar com o olhar neutro do leitor inédito.

Assim, escrevo, mas só aprecio o que escrevo algum tempo depois de ter escrito. Apreciar quer dizer aqui julgar, propriamente. Julgo o texto bom ou ruim, sem maiores indecisões. Afinal, julgo o texto de todo autor que tenha escrito algo que me caia nas mãos. Por que poupar meus próprios escritos de meu tão caro julgamento?

Assim, corrijo-me, quando posso. Vejo um texto ruim, procuro entender o que de ruim vai nele e busco não cometer o mesmo erro. 

Isso funciona? Não sei, mas eu me esforço.

Quanto já escrevi na vida?

Não sei, talvez umas mil páginas. Duas mil, quem sabe. Certamente não mais que três mil. Daria uma meia dúzia de volumes grossos.

Mas, se fossem seis volumes grossos, o que teria neles? O que valeria a pena ler?

Cartas de adolescente? Meu diário? Minha coleção de historietas? Meus dois artigos em revistas da faculdade? Minhas duas monografias? Minhas provas de faculdade? Meu livro de 1996? Minha agenda de 1999? Meu blog? Meus sites? Minha participação em fóruns da internet? Meus e-mails? Meus outros livros começados, mas não terminados? Meus projetos de livros?

Não, nada disso é sério. Nada vale muito, a não ser para mim mesmo.

Mas a seriedade não é nem será obstáculo impedindo a publicação daquilo que escrevi e escrevo. A seriedade é consequência daquilo que escrevo. A seriedade do amanhã é fruto da trivialidade de ontem e hoje. Escrever sério só se aprende escrevendo, ainda que não seriamente. Não se nasce seriamente escritor. Talvez se nasça poeta, quem sabe, mas não um escritor sério.

As minhas banalidades têm sua razão de ser. Não preciso viver daquilo que escrevo. Logo, posso ser trivial. 

Reconheço o poder das palavras, e principalmente as escritas, em comparação com as faladas. Falo pouco, embora também não dependa do falar bem para viver. A necessidade é a melhor escola, mas nunca precisei escrever nem falar bem para viver. Logo, nunca precisei me esforçar para desempenhar bem essas duas habilidades. Se sou apenas um escritor razoável, quando escrever me é prazeroso, o que dizer do meu discursar, quando não obtenho do discurso o mesmo prazer da escrita? 

Ainda assim, falo, e meu discurso é honesto, tal qual o meu escrever. Vou vivendo com eles tais como são, amadorísticas habilidades que nada rendem, exceto um prazer secundário e subsidiário. Entretanto, escrever é um prazer digno.

Cartas, poemas, diários, agendas, artigos científicos, comédias bobas, monografias, blogs, livros. O que mais posso fazer com esta minha vontade de escrever, senão dar-lhe vazão?

É certo que todo escritor quer ter seus escritos publicados. Eu também quero. E quero-os neste blog.

Mas cada coisa em seu lugar. 

Não falarei do livro Zago, de 1996, antes de falar do que escrevi em anos anteriores, porque a habilidade de escrever Zago decorreu do esforço de ter escrito outras coisas previamente. A habilidade de escrever é cronológica, e além do mais, cumulativa. Assim, falarei primeiro das minhas primeiras obras escritas: as cartas.

Mas eu já disse isso antes aqui neste blog.

Não basta prometer que falarei nelas. É preciso cumprir a promessa.

A promessa é esta: falar sobre minhas cartas neste blog.

Aposto que será uma coisa muito, muito significativa e cativante, e eu o farei.

Eu o farei.

O Diário de 1992

A imagem abaixo é a capa de meu Diário de 1992. Eu falei dele aqui, em 2004. 

Escrever diários sempre me parecera coisa de menina. Isso antes de 1992. Mas, em 1992, eu tinha ainda 21 anos. Tinha saído a pouco tempo da adolescência, e, para falar a verdade, ainda era meio adolescente, meio que adulto, vivendo uma fase em que ainda era possível divertir-se fazendo coisas estranhas como escrever diários.

Por que escrever diários?

Eu não sei, mas na época, eu estava morando na cidade de Anápolis fazia um ano. Estudara na Escola de Especialistas da Aeronáutica entre 1989 e 1990, e me mudara para Anápolis, para servir na base aérea que há lá, e nos últimos dias de 1991, eu e meu irmão Roni, que morava comigo, chegamos à conclusão de que seria bacana escrever um diário.

Fomos para uma papelaria e compramos duas agendas idênticas, uma para mim e outra para ele. Não tínhamos a intenção de usá-las como agendas, mas como diários.

As meninas do primeiro grau, do segundo grau até, às vezes tinham agendas bacanas, todas coloridas, enfeitadas com adesivos, recortes de revistas, fotos de gente famosa, rabiscos, desenhos, poemas, letras de músicas, etc. Eram agendas bonitas, mas que não combinavam muito com homens. Eu nunca vira nenhum rapaz tendo como passatempo de escola ficar enfeitando ou mantendo uma agenda tal como as meninas faziam, e nem era essa nossa intenção. Eu e meu irmão queríamos mesmo era um diário.

De onde tiramos essa ideia?

Não sei, mas acho que foi de um livro de André Gidé. Naquela época, eu ainda não estava na faculdade. Perdera uma chance de vestibular e ficara o ano de 1991 todo só trabalhando, com as noites livres, sem estudar, e neste meio tempo aproveitávamos para fazer um monte de coisas, tais como ouvir música, vadiar com amigos, correr atrás de meninas, beber, jogar sinuca, e outras coisas mais, exceto ver televisão. Este é um vício que nunca tive e que nunca roubou meu tempo. Nós montamos nossa casa e sequer pensamos em comprar televisão. Assim, tínhamos tempo de sombra, ainda que somente à noite. E aproveitávamos bastante. Por isso, 1991 foi um ano em que aproveitamos para ler muito. 

Acho que ambos lemos Os Subterrâneos do Vaticano, de Gidé. Havia um personagem interessante, Lafcádio, e posso estar enganado, mas creio que ele tinha um diário, ou coisa parecida. Havia algo de excêntrico em Lafcádio, e creio que ele tenha nos inspirado a escrever diários.

Eu usava meu tempo livre também para escrever pequenas histórias. Gostava de escrever. Aprendera a gostar de escrever na Escola de Sargentos, e achava que seria muito interessante escrever um diário, para ver que resultado daria.

Começamos os diários no dia 1º de janeiro de 1992. Eu não fui até o final, mas escrevi alguma coisa sobre cada um dos meus dias no meu diário até quase o fim do ano. Não escrevia exatamente todos os dias. Às vezes, ficava dois ou três dias sem escrever, mas peguei o hábito de anotar mentalmente o que acontecera de interessante ao longo dos dias em que não anotara nada e depois, anotava, mesmo que com atraso, aquilo de que me lembrava.

Não havia muito espaço para se anotar coisas em cada dia, mas ainda assim, é surpreendente o poder que as palavras escritas nele tem de fazer retornar à minha memória coisas que eu jamais me lembraria sem sua ajuda. Pequenos detalhes, pequenas rusgas, problemas banais que hoje estão completamente resolvidos, essas pequenas anotações são como que um mundo oculto em um código.

Para mim, e por causa deste diário, 1992 foi um ano memorável.

Eu precisaria de muita coragem para transcrever esse diário aqui, neste blog. Nem mesmo acredito que sua leitura simples e direta significaria alguma coisa para qualquer pessoa que não eu mesmo e meu irmão, e as pessoas com quem nos relacionávamos naquela época.

Mas, com os devidos comentários, e com as devidas contextualizações, é um material fantástico.

A quem interessaria?

Hoje tenho 43 anos. Os adolescentes de agora vivem uma vida muito diferente da que vivemos nós, nascidos nos anos 70 e tornados adolescentes nos anos 80, e jovens adultos em 1990. É possível que os jovens de hoje vejam algum interesse em um relato deste tipo. Não sei. Talvez haja coisas em comum entre uma geração e outra, mas certamente há coisas que vivemos que a geração atual e as futuras certamente não viverão.

Meu diário não é ficção. Ele é real. As coisas anotadas nele são reais. Aconteceram.

Minha vida de jovem adulto, de velho adolescente, foi real, e, acreditem, foi interessante!

Gosto de escrever. Acho que O Diário de 1992 merece uma chance de vir a público. É curioso dizer isto, mas tenho a nítida sensação de que quanto mais o tempo passa e mais velho eu fico, e mais para atrás no tempo vai ficando o ano de 1992, mais interessante vão ficando as anotações do meu diário.

Acho que ele merece vir à luz do público.

Tenho certeza que vou me divertir muito dando-lhe forma para que possa ser entendido pelo público em geral.

Quanto ao diário de meu irmão, ele está comigo, o diário. Meu irmão mudou-se algum tempo depois para o Canadá e não o levou consigo. Depois que ele se foi de Anápolis, nunca mais viemos a morar perto um do outro. Ele nem se lembra do diário, ou, se lembra, nunca fez questão de tê-lo de volta. De qualquer maneira, de minha parte nunca tive a ousadia de ler qualquer coisa que seja do que ele tenha escrito. Sempre respeitei sua privacidade e intimidade. Não sei o que ele andou escrevendo por lá. Mas que seria muito interessante a gente reler nossas memórias, juntar as anotações de nossos dias em comum e juntos formarmos um relato conjunto daquela época, certamente seria.

Quem sabe, um dia.

De qualquer forma, não deixo de achar fascinante a ideia de que minha vida no ano de 1992 tenha sido tão rica e surpreendente.

Será que todos os anos são igualmente tão fantásticos e que só não sabemos disso porque não nos damos ao trabalho de anotar as pequenas coisas que acontecem conosco ao longo dos dias?

Serão os diários, ou mesmo os blogs, tal como este, aquele tipo de objeto mágico capaz de tornar o duro e inamistoso presente um grandioso e radiante passado?

Talvez sejam, e diante desta constatação, devêssemos dar a nós mesmos este trabalho, o de registrar o presente, o nosso dia-a-dia, para que um dia, no futuro, pudéssemos parar, ler aquilo que registramos a muitos anos atrás e dizer que de fato vivemos, e não apenas existimos. Assim, chegaríamos ao fim, é certo, mas não sem aquela sensação de ter realmente aproveitado a vida. A vida por nós vivida foi proveitosa? Com ou sem diário, ela foi. Mas o diário eterniza esse viver, testemunha-o para nós mesmos, para que não sejamos enganados pelas nossas memórias, que teimarão em renegar nosso passado, e fazer dele um vasto quadro branco, opaco, e que dará ao nosso existir o sabor neutro do existir inútil, estéril e carente de sentido e resultados. Os diários provarão o contrário, para que morramos em paz, realizados nas nossas vidas realmente vividas.

Essas constatações reforçam minha convicção de que mais dia, menos dia, depois das devidas adaptações, publicarei o meu diário, e que isto será de grande proveito para mim mesmo, se não para outros mais.

É o que veremos com o decorrer dos anos.