quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Og Mandino - Primeira leitura

A primeira leitura do livro de Mandino provocou uma sensação de poder ilimitado, esperança e euforia. Tudo parecia possível.

Mas foi algo passageiro.

Na verdade, o livro não foi estudado; ele foi apenas lido, da mesma maneira que lemos um romance, linearmente e de uma única levada. Na época, eu não sabia que somente uma leitura linear não seria o suficiente para coisa nenhuma, e lê-lo assim não seria mais do que um simples passatempo. É surpreendente que tenha gerado empolgação por três ou quatro meses. Poucos livros realmente provocam impactos assim, ainda mais quando é lido por pessoas que já são acostumadas a ler autores diferentes, temas diferentes, estilos diferentes.

É que o tema na verdade era uma novidade. Jamais me passara pela cabeça antes que poderia existir algum livro que nos ensinasse a ter sucesso na vida, a resolver nossos problemas pessoais, a nos motivar a realizar coisas, vencer barreiras, ganhar dinheiro. Para mim foi uma grandessíssima surpresa. Foi como descobrir vida inteligente na Lua: tão perto e tão óbvio que jamais poderia suspeitar que pudesse existir. Logo um livro, algo que eu tinha tanta paixão, poderia ter a solução para um monte de problemas que só eu sabia que possuía: minhas deficiências, minhas fragilidades, minha história familiar problemática, minha origem humilde, minhas frustrações, meus fracassos, meus erros. Tudo estava lá. Uma maneira de pensar sensata, dita por um bando de senhores e senhoras sábios, que eu não fazia idéia de quem poderiam ser, mas que mereciam todo o respeito, porque o que diziam com seus textos selecionados por Mandino eram coisas sensatas, corretas, e eu me espantava de que alguém pudesse ter pensado tais coisas de modo tão racional e lógico, e mais ainda que esse alguém pudesse ter clareza de espírito para ter colocado tais pensamentos em ordem no papel de forma tão empolgante e bela. Mas estava lá, estava tudo lá.

O livro era como uma chave secreta, que tinha caído em minhas mãos por acaso, mas que imediatamente eu a reconheci como sendo a chave para um tesouro. Quanto a isso, não restava dúvida. O livro fora escrito para mim, para a minha pessoa, para os meus problemas. Disso eu estava certo. Dali em diante, não era mais questão de não saber a origem das coisas. Era só questão de querer e conseguir. E, tendo-o lido uma vez, não haveria porque ter pressa. Eu tinha a chave da fortuna para todo o sempre, pelo tempo futuro no momento em que precisasse, porque quem me ensinava não era um senhor idoso cheio de segredos e experiências valiosos, mas que poderia morrer alguns anos além, sem que eu tivesse chance de revê-lo e aprender de verdade aquilo que me fora dito em grande fluxo em tão pouco tempo, de forma que não pudesse assimilar. Não. Era um livro, e o que eu não pude assimilar numa única leitura era, sim, coisa demais para ser aprendida de uma única vez, mas já era mais que suficiente para eu me manter aceso por longo tempo. Era como um combustível que me manteria funcionando corretamente por longo tempo, sentia eu, instintivamente, mas, no momento em que esse combustível acabasse, e eu não tivesse mais como recorrer à minha memória falha e aos meus parcos recursos, restaria o livro, e ele estaria lá, pronto a me ensinar tudo de novo, e quantas vezes fosse preciso. Sim, ele não desapareceria. O perigo seria eu me esquecer do próprio livro em si, e não só de suas lições fugidias. Esse perigo era real, e de fato eu me esqueci dele e de tantos outros livros em momentos em que eles me seriam muito úteis, mas então o problema não eram os livros e suas lições, mas a minha própria memória. Não sei dizer porque abri mão de me lembrar de pedir ajuda aos meus livros tão úteis, mas o fato é que na maioria da vezes em que me meti em encrencas, me esqueci deles. Arrogância? Talvez...

De qualquer forma, li Mandino a primeira vez em 1990 e só tornei a lê-lo em 2001, depois em 2002, e de lá para cá, leio quase que semanalmente, mas não é uma leitura linear. São pequenos trechos, uma frase, algum capítulo, ou então simplesmente o índice, ou o nome dos autores, ou então folheio-o em busca de alguma ordem de temas, enfim, estudo-o como um livro de alguma matéria científica, um tratado a qual sempre voltamos em busca de consultar algo que faz parte de nosso trabalho. Então, levando-se em conta que a terceira vez que o li já o foi de maneira a estudá-lo sistematicamente, posso afirmar que o li apenas duas vezes, em 1990, e depois, por volta de 2001.

Fazendo um retrospecto, posso afirmar que da primeira leitura, retive na memória pouca coisa real, além do sabor geral do livro. Sem dúvida, o texto mais marcante foi "Uma Mensagem para Garcia". Depois, algo sobre anotar idéias e organizar-se, recomendações feitas em dois ou três capítulos diferentes, e que pareceu sensato adotá-las, além do texto de Dale Carnegie, de "Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas".

A mensagem a Garcia marcou-me porque era uma mensagem em estilo militar. Era algo que fazia sentido para mim. Não era nada novo no meu modo de pensar, mas era algo claro como água, um ideal de comportamento militar que deveria ser adotado por todos e principalmente por mim, que sabia que deveria adotar. Somente refletia de maneira exata e precisa aquilo que eu pensava de maneira imprecisa e vaga, e eu pensava daquela maneira devido aos longos anos de estudo do mundo militar, e eu era um militar, e enfim, foi mais um caso de identificação que propriamente de descoberta de algo novo.

As sugestões de se adotar o hábito de escrever e se manter organizado pareciam simples, eficientes e atraentes de se adotar. Ordem e limpeza dão um senso de dever cumprido muito forte. Meu pai era assim em algumas ocasiões, e nunca vou esquecer sua maneira de manter suas ferramentas de pedreiro em ordem em sua caixa de madeira, limpas depois de usadas, e da maneira ordenada como as usava, quando fazia cercas e portões, e quando concertava pequenos defeitos em cadeiras e bancos. Eu gostava daquilo, porque parecia funcionar. Era o senso de ordem que fazia com que meu pai fosse capaz de medir, depois serrar um pedaço de madeira e depois abrir um buraco quadrado em outro pedaço e fazer os dois se encaixarem com perfeição. Esse senso de ordem gerava precisão, gerava resultados bem feitos e eu gostava daquilo. Não me pareceu muito difícil ser organizado. Quanto a escrever usando agendas, foi também um senso de ordem, observado em meu pai, com suas cadernetas de endereços e telefones, que me serviu de motivação e inspiração.

Quando a Dale Carnegie, a palavra "influenciar" pareceu-me muito poderosa e importante. Algo como deter o poder sobre pobres mortais, algo maquiavélico e sinistro, ao mesmo tempo que secreto e possível de ser conseguido, quase um truque mágico.

Por volta de um ano depois, em 1992, acabei encontrando o livro de Carnegie em um sebo em Anápolis, e o comprei. Foi minha segunda aquisição na área da auto-ajuda. Depois outro de Carnegie, depois, livros de administração, e livros e mais livros, até perder a conta.

Assim, a minha primeira leitura de Mandino foi marcante e merece destaque porque foi o meu primeiro contato com um livro com um tema adulto, escrito por pessoas sábias com o intuito de ajudar seus semelhantes em seus problemas. Um livro sério muito útil quando corretamente usado.

Embora que passados tantos anos eu perceba agora que eu não tinha na época maturidade suficiente para saber usá-lo corretamente, percebo também que lê-lo foi inegavelmente um marco importante em termos de crescimento pessoal. As sementes lançadas por seus textos vieram a dar frutos muitos anos depois de lançadas. Quase uma década depois ainda repercutiam em minha mente. Talvez ainda estejam germinando, e venham a dar frutos em algum futuro, próximo ou longínquo. Quem sabe?

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Texto originalmente criado em 01/10/2009

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