Nosso querido Steve Jobs disse, em algum momento de sua breve mas proveitosa vida, que trocaria toda a sua tecnologia por uma conversa com o filósofo Sócrates.
Eu o entendo. Afinal, quem não gostaria de conhecer alguém muito famoso? Quem não gostaria de aprender com alguém muito sábio? Quem não gostaria de estar ao lado de uma celebridade de eras passadas?
No entanto, não queremos passar nossas horas de lazer com nosso dentista, com o cara que conserta nossos carros quebrados e com aquele outro, de jaleco alaranjado, que recolhe o lixo da nossa rua.
O que Sócrates tem que tanto seduz a todos?
O caso é que ele tem o nome imortalizado num livro de um discípulo seu, Platão.
Se não tivesse seu nome registrado em um livro, Sócrates jamais seria uma celebridade. Nem Jesus, nem qualquer outro que já se foi, mas que poderíamos desejar encontrar um dia.
A vida humana passa pela existência na Terra e desaparece sem deixar vestígios. Toda a sabedoria se esvai no último estertor da vida, e não fossem os livros, e os Platões que os escrevem, grandes homens jamais seriam conhecidos. Assim, escrever é um ato de grandeza, e é uma conquista humana que tanto Steve Jobs quanto qualquer cidadão com um pouco de honestidade deveria louvar e agradecer.
Sócrates não via valor nos livros...
Mas, perdoemos Sócrates. Ele era tão bom professor que seu mais famoso discípulo não o pode esquecer. Os livros de Platão não foram obviamente escritos por Sócrates, mas foram frutos de seus ensinamentos. Há alguma lição nessa constatação, a de que uma coisa realmente boa precisa ser preservada para a posteridade, e a de que se alguém realmente faz a sua parte, terá seu nome preservado, quer queira, quer não.
Por isso, por existir aqueles que escrevem e registram para as gerações futuras as conquistas do presente, é que nós não precisamos voltar no tempo para termos uma conversa com Sócrates.
Basta pegarmos os livros de Platão e estaremos com ele, e com Sócrates, e com outros sábios mais. O livro, Senhor Jobs, é já a nossa máquina do tempo.
Escrever um livro é um ato de extremo esforço. Quem já escreveu sabe. Mas mesmo assim, muitos e muitos livros são escritos, em um volume espantoso.
Os escritores não fogem às suas tarefas.
Já ler, que deveria ser apenas prazer, aparentemente não o é. Afinal, somos seres que se cansam facilmente. Não há livro que possa concorrer com a facilidade de uma partida de futebol, para quem realmente não quer fazer nada.
Ler, ainda que não seja tão difícil quanto escrever, requer algum esforço, e muito mais do que simplesmente ver televisão. Daí também a razão do sucesso fácil do Youtube e não do Scribd. Um site de livros dificilmente poderá concorrer com um de vídeos. Ler é um saco, já dizia um ex-presidente do Brasil.
Mas, o dever nos chama.
Afinal, mesmo a televisão não pode se furtar ao fato de que o mundo atual vive uma tremenda crise. Alguns não querem ver a realidade, outros acham que a realidade é menos negra do que a televisão apresenta, mas ninguém nega que vivemos em um mundo em crise.
Os brasileiros foram poupados da borrasca mais violenta, mas mesmo uma marola pode afogar quem não sabe nadar.
Se Steve Jobs se propôs trocar toda sua tecnologia por algumas horas com Sócrates, a quem nós deveríamos recorrer, para que possamos aprender alguma coisa que nos ajude a superar nossas adversidades?
Mas, graças a Platão, graças aos livros, Sócrates ainda vive. E graças ao trabalho silencioso de milhares de incógnitos tradutores, Sócrates não é somente o sábio dos gregos, mas também dos americanos, dos franceses e, por que não, também dos brasileiros. E, abundância das abundâncias, Jobs foi didático, e citou Sócrates apenas por economia de palavras. Certamente ele trocaria sua tecnologia pela convivência com muitos outros grandes sábios. A humanidade nos legou grandes homens, tantos que todas as nossas horas de vida somadas seriam poucas para compartilhar com apenas uma fração desta constelação humana.
Dúvida? Então eu o conclamo a se adentrar em uma biblioteca...
Assim, amigos, na hora das marolas, escolham suas bóias salva-vidas. Não necessariamente Sócrates. Mas não sejamos arrogantes de imaginar que saberemos nadar nesse oceano perigoso que é a vida em sociedade.
Não seremos salvos por jogadores de futebol, nem por participantes de Big Brothers, nem por políticos que nunca se deram ao trabalho de ler nada. Lula não é Sócrates. Tiririca não é Sócrates. Neymar não é Sócrates. Sócrates não é Sócrates.
Salvem-se com seus iphones e ipads.
Divirtam-se menos.
Leiam mais.
A situação assim o exige.
E que Steve Jobs, onde quer que esteja, possa agora ter a sua conversa com Sócrates, e que ela seja longa, e não curta. Por toda uma eternidade, quem sabe...
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