Nós, humanos, somos uma espécie animal muito interessante. Veja este vídeo.
Nós somos assim. Nós todos já fomos assim, não por quatro horas, nem por um dia, mas por anos. Anos sem conta explorando o mundo à nossa volta.
Em que momento termina o milagre da curiosidade?
Para muitos, o milagre acaba com a formatura no colégio. Para outros, no primeiro dia de trabalho assalariado. Para algumas ainda, no primeiro dia de gravidez. Em geral, presume-se que torna-se adulto, e portanto não mais criança, e portanto não mais curioso, já aceito como tendo experiência em suas explorações, alguém que completa dezoito anos.
Alguns aceitam essa data como um ponto final em suas curiosidades. Mas as coisas não deveriam ser assim.
Quando deixamos de ser crianças? Qual a relação entre crescer, tornar-se sexualmente maduro, economicamente auto-suficiente, capaz de votar e dirigir carros, e deixar de ter curiosidade pelo mundo?
Em que momento morre a curiosidade e nasce a mesmice?
Mas veja o vídeo novamente, e se pergunte: de onde aquele bebê arranja tanta energia? Você, um adulto, não é capaz de se manter ativo em seu serviço de adulto em um ritmo frenético como o do bebê nem por uma única hora.
Nós não amadurecemos e nos tornamos experientes. Nós crescemos e nos tornamos preguiçosos.
Disfarçamos nossa preguiça sob uma carapaça de auto-suficiência, que se torna arrogância, e que nos sufoca. Há aqueles cuja preguiça os força diariamente a parar e a sentar e a tomar do controle remoto e entregar suas vidas às Globos, aos SBTs e aos Jornais Nacionais, com suas vinhetas fáceis, suas musas bronzeadas e seus comentários complacentes. Todos os dias, todos os anos, todas as décadas.
São como aquelas tartarugas centenárias encontradas em ilhas remotas, que vivem muito, quinhentos anos, e que possuem uma carapaça de quinhentos quilos. Vivem cada ano para encorporar mais um quilo à carapaça.
Quanto pesa sua carapaça?
Mas a natureza é sábia, e nos dotou com este dom milagroso da curiosidade, e a energia para explorar, e mudar este vasto, e incompleto, mundo azul. Não deixe que o controle remoto o domine. Não se deixe controlar por ele. Você não está tão cansado assim que não possa fazer mais. Não vivemos em um mundo tão bom assim que possamos repousar sobre os louros do sucesso, e gritar gol a cada bola que entra nas redes desse mundo afora.
Mas, apesar das carapaças, há entre os humanos aqueles cuja curiosidade não cessa em função de um evento qualquer.
Houve uma época em que uma carta levava meses para chegar ao seu destino, trazendo boas ou más novas. E ainda assim o mundo mudou.
Hoje, um clique leva bibliotecas a qualquer canto do mundo em segundos. E nada muda.
Exploremos nossas oportunidades. Exploremos com curiosidade infantil nossos gigantescos problemas sociais. Cartas em lombos de cavalos já mudaram o mundo. O que não fariam nossos corajosos antepassados com uma mísera conta de e-mail? E por que não podemos nós hoje fazer o mesmo? Por que simplesmente ver o mundo se esfacelando pela tela da televisão e nada fazer, a não ser gritar "gol"?
Eu me pergunto: o que ganho com minha curiosidade? Mas uma voz mais forte retruca: o que eu perco com minha preguiça?
Eu não posso mudar as pessoas. Mas eu posso tentar mudar a mim mesmo. Minha curiosidade me consome, e não posso me dar ao luxo de 30 minutos de sonolentos telejornais, muito menos 2 horas de futebol.
Eu prefiro tomar esse emaranhado confuso e intrincado que é viver no mundo moderno e estudá-lo, desconstruí-lo, tentar reconstruí-lo um pouco melhor. Eu não vou conseguir muita coisa sozinho, por isso, conclamo os curiosos a se juntarem, e sacolejo os preguiçosos, porque eles também não podem fugir ao dever moral de serem seres humanos plenos e senhores de seus talentos e de seus destinos.
Exploremos os nossos problemas como o bebê do vídeo. Exploremos as nossas oportunidades, agraciados que fomos pelo milagre da curiosidade.
Exploremos mais.
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