sábado, 22 de setembro de 2012

Violência e silêncio

Fui acordado na manhã deste sábado por uma ligação de minha família, que raramente liga, buscando saber se eu estava em casa. O motivo era simples: mais um trote por telefone, destes em que um bandido, provavelmente de algum presídio, liga aleatoriamente para alguém e afirma ter um parente sob sequestro.

Como não foi a primeira vez que isto aconteceu na casa de minha mãe. Ela resolveu ligar somente para ter certeza de que era mesmo um trote, porque, afinal, os sequestros reais não são raros. Pelo contrário, ocorrem cada dia mais e não seria surpresa se fosse uma ligação vinda de um sequestrador de verdade.

Um dia desses eu postei uma série de artigos sobre segurança pessoal. Eram restos de um blog que eu nem lembrava mais o endereço na internet. Só consegui recuperar o link para o blog, que não existe mais, porque o Google registra tudo. Numa consulta, descobri que meu site Metamorphose velho e deletado pelo UOL tinha um link para o Defenda-se!, que por sua vez também não existe mais, deletado por mim mesmo, num gesto de cuidado para com possíveis leitores, já que não sou especialista em segurança nem em pesquisas sobre causas de violência social.

Pois bem, as postagens de Defenda-se! foram publicadas por mim no Scribd e, a despeito de eu não ter  me aprofundado muito no tema, pensei que poderia interessar a alguém. Na verdade, percebi que não. Como faço regularmente uma medição do número de visitas que meus textos no Scribd recebem, notei que o meu pequeno texto sobre segurança não interessou a quase ninguém.

Nosso país vive uma situação próxima de uma guerra civil. A despeito de alguns indicadores apontarem melhorias sociais relativas, a questão da segurança pública e segurança em geral vai ladeira abaixo.

Por isso, embora eu não escreva mais um blog sobre segurança, quero lembrar que o assunto é muito sério. É nosso dever como cidadãos de um país que se propõe ser um país civilizado tentar combater a violência que nos assola. Não acredito muito em melhoras a curto prazo, mas acho que cruzar os braços é covardia e rendição a uma situação que de forma alguma é definitiva.

Eu acho que é possível viver em um país em que as mães não tenham de ligar desesperadas de tempos em tempos para seus filhos perguntando se eles estão bem ou se estão mesmo sequestrados.

A violência é fruto da cultura de nosso país. Uma cultura doente e destrutiva.

Será que ainda não deram um jeito nesses malditos presídios e seus celulares clandestinos?

Chego à conclusão de que bandido preso com celular é o mesmo que bandido livre. E, pior, cidadão honesto refém de bandido é cidadão preso. Estamos presos entre grades em janelas, e agora, presos pelo medo de uma ligação telefônica.

Eles são tão poderosos e numerosos assim?

Por que pessoas honestas, mas silenciosas, abaixam as cabeças e entram em suas casas como aquele povo que um dia entrou em vagões de carga para nunca mais voltarem?

Quem cala, consente? Quem abaixa a cabeça, rende-se? Mas quem não pula do vagão, que esperança pode ter?

O que você ganha, se entregando ao seu algoz?

Por que você simplesmente não reage?

O prêmio pelo seu medo é a sua própria morte.

Reaja!

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