quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A importância da disciplina

A trigésima sétima pergunta da série que discuto atualmente neste blog tem conexão direta com a pergunta respondida nas duas últimas postagens

Eu conclui a última postagem afirmando minha dúvida quanto à veracidade da concepção de que todo aquele que compra um livro de autoajuda o lê de fato e tenta aplicar aquilo que lhe é sugerido como uma ação que pode ajudar a conseguir o que quer com a compra do livro.

Afirmei que um leitor tem sucesso com um livro de autoajuda na medida em que disciplina-se a lê-lo e a seguir o que o autor recomenda que siga. Mas, será assim tão simples?

A minha trigésima sétima pergunta é:

"Qual a importância da disciplina?"

A resposta para esta pergunta parece-me das mais fáceis. A importância da disciplina é fundamental, e não somente para aquele que pretende ler livros de autoajuda e obter algum benefício pessoal no processo. Ela, a disciplina, é importante em qualquer processo de aprendizado que envolva alguma complexidade e que demande algum tempo de esforço continuado e progressivo. Não se aprende tudo de uma única vez. E não se aprende pela metade. O que quer que se queira aprender de fato, é preciso que seja aprendido em sua completude. 

Evidentemente, há diferentes graus de profundidade e um determinado ramo de conhecimento ou de habilidade pode ser aprendido, ou melhor, estudado, mais ou menos intensamente e cada pessoa deve saber por si só o quanto desta profundidade lhe interessa. Uma pessoa pode se contentar com noções elementares, outra, com um grau avançado de profundidade, e há ainda umas poucas cuja satisfação está justamente em estudar um assunto tão a fundo que lhe alarga as fronteiras, e são em geral pioneiras em avanços que depois são compartilhados com o resto da humanidade, em um processo de desenvolvimento e aprendizagem sem fim.

Assim, dentro de seu espectro de necessidades, um indivíduo pode saber tanto quando queira. A menos que queira saber rudimentos, e para isto dedicar apenas algumas horas de estudo na vida, precisará se esforçar para atingir o nível que lhe pareça adequado. Evidentemente que a maioria dos compradores de livros de autoajuda se enquadram na categoria dos que querem apenas aprender rudimentos, e para tanto, dedicam apenas o tempo necessário para uma leitura parcial de uma determinada obra. Mas, para os que querem ir além, é preciso mais.

Um livro médio, nem muito grosso, nem muito fino, demanda várias horas de leitura atenta e contínua. Não é comum que se leia um livro desses em apenas um ou dois dias de esforço concentrado. E se alguém assim o fizer, não obterá tanto proveito quanto outro que ler um livro compassadamente, em dias sucessivos, sem grandes intervalos, sem grandes excessos, e que tenha o tempo necessário para meditar sobre aquilo que lê a cada dia, em um processo de assimilação calma e amadurecida, e não por meio de uma leitura sonolenta, longa, cansativa ou muito rápida.

Ora, ler requer disciplina. O hábito de leitura é extremamente prazeroso, mas não muito comum hoje em dia. Evidentemente, há milhões de leitores vorazes no mundo moderno, mas são poucos comparados ao número de outros tipos de consumidores de informações, tais como os que formam as audiências de televisão, cinema, internet, jogos eletrônicos ou qualquer outro tipo de lazer tão comum no dia-a-dia. Ler é demorado, requer atenção, calma, local adequado, silêncio, tempo. 

Mas livros de autoajuda, como já disse em outras postagens anteriores, são na verdade manuais.

Manuais são ainda mais difíceis de serem lidos. Eles demandam mais leituras que um simples romance. Eles demandam anotações, rascunhos, exercícios, planos, projetos, tabelas. Eles não foram escritos para serem lidos como meras fontes de entretenimento e lazer. É certo que não são escritos como livros técnicos, para não parecerem muito difíceis de serem seguidos, mas eles são tão técnicos quanto livros de engenharia, administração ou economia. Apenas são escritos em linguagem popular, usam exemplos do dia-a-dia e parecem serem fáceis de serem seguidos, mas não são.

Disciplina para ler já é um atributo difícil. Já disciplina para um estudo sério de um livro com vistas à sua aplicação prática é ainda mais difícil. Ter disciplina é um atributo que é pré-condição para que um leitor possa tirar um mínimo de proveito de um livro de autoajuda. Sem esta disciplina, não há a menor possibilidade de sucesso nesta empreitada, que sequer será vista como uma empreitada. Ler pelo mero prazer de ler não produz resultado real algum na vida de quem quer que seja quando falamos de autoajuda. Não é uma questão de mera mentalização, ou força de vontade, ou o caso de se descobrir e tomar posse de algum segredo por meio de uma mera leitura, como se livros de autoajuda fossem manuais de bruxaria ou esoterismo, cheios de segredos e palavras mágicas que, uma vez conhecidas por meio de um simples correr de olhos, já seriam capazes de dar àquele que as lesse todo o poder contido nelas, como chaves mágicas para cofres secretos recheados de tesouros ocultos. Não, não há mapas de tesouros enterrados em livros de autoajuda, e não há palavras mágicas esperando para serem aprendidas, nem exercícios mentais simples e fáceis que darão àquele que os colocar em prática o poder de atrair riqueza e sucesso como um imã humano. Qualquer livro que sugira ou prometa algo desta natureza estará mais para charlatanismo do que para autoajuda genuína, e merece, se não o descrédito imediato, pelo menos uma forte dose de desconfiança e ceticismo, para dizer o mínimo.

Então, se não há mágicas, a mágica está na disciplina. Mas, se a disciplina é tão importante, por que ela é tão rara? Mas já estamos indo longe demais. A pergunta se limita a questionar a importância ou não da disciplina no sucesso com a leitura de livros de autoajuda. A resposta é a de que a disciplina é fundamental, a menos que estejamos lendo livros mágicos. Caso contrário, teremos então manuais disfarçados de romances, mas tão difíceis quanto um livro de matemática.

Ora, a constatação é a de que a disciplina, ainda que fundamental, aparenta ser um atributo raro. Daí, diante desta constatação óbvia, dei como respondida a questão deste post e fiz minha próxima pergunta, a qual tratarei no post seguinte.

Agora, não falamos mais de mágicas. Agora, o assunto toca em nossas forças (e fraquezas) pessoais.

Aos poucos, eu me aproximava daquilo que viria a me tomar a atenção por um longo tempo: o fascinante mundo do comportamento humano.

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