sexta-feira, 28 de maio de 2004

O que esse blog é e o que ele não é... - parte 2

A ideia de que um blog é um diário tem a vantagem de que ele será um diário eletrônico e público, mas eu particularmente não vejo meu blog tanto como um diário. Ele pode ser um diário em termos. Não consigo conceber que eu use meu blog da mesma maneira que eu usaria um diário pessoal, daqueles de papel, aquela agendinha colorida que vem com uma folha para cada dia, e que no fim da noite, quando já estamos na cama, prontos para dormir, a pegamos de dentro de uma das gavetas do criado-mudo e filosoficamente anotamos nossas emoções durante o dia, nossos problemas não resolvidos, nossos sonhos secretos, nossos pequenos crimes que não temos coragem de contar a ninguém em carne e osso, mas que achamos que sejam dignos de serem anotados para um uso futuro qualquer. Acho que escrever diário é um saco.

Para falar a verdade eu já escrevi um diário durante um certo período de minha vida. Foi uma experiência muito estranha, mas deixarei para uma próxima oportunidade a história de meu velho diário de 1992.

Em resumo: foi maçante escrever todos os dias, embora que hoje, lendo-o, eu veja nele algo valioso e que o esforço de tê-lo escrito compensou. Mas eu jamais o poria a público na Internet. Quem sabe depois de passados alguns anos dos fatos, ou então com algumas linhas e frases censuradas, mas então ele perderia muito de sua originalidade e espontaneidade.

Mas não significa que ele não possa ser um outro tipo de diário. Pode.

Quem sabe eu não possa usar meu blog para anotar não os detalhes de meu dia-a-dia, ou meus sentimentos mais íntimos, mas possa usar para registrar meus pensamentos racionais, o fluxo de minhas ideias. Ele pode ser um diário que relate minha relação com o mundo externo. Eu posso registrar minha percepção daquilo que rola no mundo, na tv, no trabalho. Mas nesse caso, ele estaria mais para um jornal que para um diário. Mas não é que tem jornal que se julga mesmo um diário? De fato, são muito semelhantes. Mas não quero escrever um jornal. Parece-me que a Internet já está cheia demais desse tipo de assunto. A menos que eu fosse alguém extremamente importante, uma autoridade em algum assunto de interesse para o público em geral, como é o caso dos famosos da política, do jornalismo, da mídia, como Delfim Neto, Diogo Mainardi, dentre outros tantos. Não sei se teria algo a contribuir neste ramo.

A segunda ideia, a de que o blog possa ser uma página pessoal, parece em parte verdade, mas não é. Claro, um blog e uma página pessoal têm algo em comum, a saber: ambos estão em formato HTML, podem ser acessados via browser, são públicos, podem ser atualizados, aumentados, editados, etc., mas acho que uma página pessoal comporta mais liberdade de produção, mais organização em termos de uso de recursos tecnológicos, e não tem a urgência de ser constantemente atualizada como um blog. Quer dizer, um blog que não seja atualizado não representa nenhum mal em si, mas ele não desperta nenhum interesse para o público, somente para o dono. Sem ser atualizado, o blog é como um jornal velho que costumamos ver sobre os balcões dos açougues, exceto que não podemos embrulhar carne nele. Já uma página pessoal pode conter assunto mais duradouro. Ela está mais para um livro que para um jornal. Claro, dependendo do seu conteúdo, um blog pode ser mais durável em termos de interesse, e uma página pode ser mais descartável e fútil. Estariam então ambos mais para revistas semanais ou mensais que para jornais diários ou livros eternos. Mas não é bem uma revista nem um jornal que eu tenho em mente ao escrever um blog. Ao menos por enquanto, não.


A terceira ideia é a de que o blog seja um fórum, mas me parece que como um fórum o blog perde muito em agilidade para a concorrência. Há sites em que podemos criar nosso próprio fórum, que o classifica por área de interesse e é visitado por pessoas que compartilham interesses em comum. O fato de ter um dono que pode ter um certo controle sobre o que é publicado faz do blog uma ferramenta mais organizada que um fórum, onde todo mundo costuma normalmente ter bastante liberdade para publicar o que bem entender, inclusive coisas que nada têm a ver com o tema do fórum. São os famosos off-topic. Por ter um dono, o blog parece mais um livro de visitas que acompanha uma obra de arte que é exposta e serve para o público marcar presença, com a vantagem de que não se limita a receber uma assinatura e uma data. Mas permanece a ideia de que não cabe ao público ter mais destaque que o dono. O texto do dono é a arte. Quem quiser chamar mais a atenção que o dono, que crie seu próprio blog e vá se exibir por lá. Neste caso, o blog é uma espécie de vitrine para os textos do dono.

Em parte sim, todo mundo gosta de se exibir um pouco, e eu não seria exceção à regra, mas não é essa a intenção principal ao iniciar meu blog. Vejo-o mais como um fórum que uma vitrine. E gosto da ideia de ter controle daquilo que o público acrescenta a ele, porque, convenhamos, não podemos discriminar opiniões e críticas fundadas a nossas idéias e textos, mas não queremos pessoas criticando-nos na nossa própria casa, nem sermos advertidos em público de que uma palavra não se escreve com x, mas com dois esses. Gosto da ideia de um blog como um fórum.

A quarta ideia é a de que ele, o nosso querido blog, possa ser um livro que iremos compor ao longo do tempo. Um e-book escrito quase ao vivo, com aplausos eletrônicos também quase simultâneos, via comentários.

Não é bem esse o meu plano. Quem já escreveu algum livro, alguma monografia, ou qualquer outra obra escrita que demande tempo e muitas páginas e alguma organização sabe que o Word off-line é muito mais apropriado, e que escrever algo inacabado e submetê-lo à critica sem amadurecer o texto é, ao meu ver, meio masoquista e sem graça. Se quero aplausos, melhor publicar algo realmente lavrado e polido, não algo primitivo e inacabado. Não que alguém não possa querer fazer um livro assim. É apenas uma questão de gosto pessoal, e, além do mais, eu não quero escrever um livro. Já escrevi um, e sei como é. Mas a história deste livro também fica para depois.

A quinta ideia, a de que o blog possa ser um mero arquivo de textos e anotações on-line, com o objetivo de preservar dados para um futuro distante não é uma ideia tão ruim, embora um arquivo não necessite ser público e receber comentários. Se a intenção é preservar, guardar, ele pode digitar suas anotações no Word e imprimir tudo, colocar num envelope e mandar para uma caixa postal, ou guardar em um cofre, ou seja, pode guardar seus escritos e idéias em qualquer lugar que queira, como uma cápsula do tempo. Mas não deixa de ser uma ideia interessante, a de ver um blog como uma cápsula do tempo.

Então, que perfil terá meu blog?

Ele será um pouco como um diário de minhas idéias novas, um pouco como um rascunho para testar idéias para minha futura página pessoal, que prometo que irei fazer da maneira que sempre sonhei, um pouco como um fórum para discutir minhas idéias com pessoas que acho que têm algo a contribuir e discutir, um pouco como um livro, no qual escrevo textos provisórios para um livro de verdade no futuro, e por fim como uma cápsula do tempo, onde guardo para a posteridade minhas idéias em forma de bits.

Sei que ele tem forte tendência a querer ser muito menos que isso, mas sei também que ele pode se tornar algo muito mais interessante do que tudo que citei. Depende de mim. Por hora basta. Estou contente de ter escrito tanto!


Nenhum comentário:

Postar um comentário