sábado, 16 de fevereiro de 2013

Há definitivamente algo de errado com o povo brasileiro

Sei que não fui o primeiro, nem o único, a perceber que algo de muito errado está acontecendo com o povo brasileiro. Quer dizer, algo de muito errado está acontecendo com as pessoas que vivem atualmente neste país esfacelado.

Vou logo ao assunto: ontem, dois eventos, de uma raridade extrema, ocorreram ao mesmo tempo, com intervalo de apenas algumas horas. O primeiro deles foi um meteorito que explodiu sobre algumas cidades no centro da Rússia com a força de 200 bombas de Hiroshima e deixou mais de 1.200 feridos, algumas dezenas deles com gravidade. O segundo deles foi um asteróide que passou a poucos milhares de quilômetros da Terra, representando um risco real, bem mais ameaçador que o meteorito que caiu mais cedo na Rússia.

O que mais chama a atenção é que a probabilidade de dois eventos deste tipo ocorrerem no mesmo dia é de 1 em 100 milhões. Provavelmente a humanidade estará extinta quando isto tornar a ocorrer, daqui a 270.000 anos, segundo o cálculo das probabilidades. Assim, algo muito raro e perigoso ocorreu ontem, para o conhecimento de todos. Um evento assim deveria servir de alerta, deveria chamar a atenção e deveria estimular debates infinitos no planeta todo, no mínimo.

Mas aqui, no Brasil, ao longo de todo o dia quase nada foi dito sobre o assunto. Aqui, as matérias jornalísticas mais procuradas pelos internautas eram sobre Neymar, sobre quem agrediu quem na novela Salve Jorge, enfim, o povo brasileiro está mais interessado mesmo é em celebridades, violência e sacanagem.

Não bastasse isto, e vemos o Facebook se encher de mêmes e piadinhas as mais ridículas e maldosas sobre a desgraça alheia, na Rússia. Uns brincando de heróis japoneses, outros desejando que um meteoro caísse sobre Brasília, outros ainda usando o assunto para a promoção de si mesmos e de seus blogs ocos e suas comunidades vazias.

Há, sim, algo definitivamente errado com o povo brasileiro, pelo menos. Essa insensibilidade com a desgraça alheia, essa preocupação com o banal, em lugar de uma verdadeira demonstração de solidariedade pela dor distante dos russos, a ignorância do tamanho do evento, a total incapacidade de perceber implicações, o desprezo por aquilo que ignoram, enfim, a total indiferença diante da vida, do mundo e do cosmos, a absoluta atenção apenas para consigo mesmos e para com as frivolidades que abarrotam a televisão e a internet como um todo, é o sinal claro de que somos um povo doente, muito doente. Um povo que, sem saber, tem dentro de si um câncer social terminal. 

Um povo covarde, que não tem coragem de passar a mão em uma bandeira, ou quem sabe, em um fuzil, e fazer com as próprias mãos o que deseja que um asteroide faça com meia dúzia de políticos que acham que  podem tudo. 

Não, um asteroide não destruirá Brasília. Não, ele não destruirá o Brasil. Mas nem por isso o Brasil não será destruído. Ele o será, e o será pelo próprio povo que não é capaz de nada. Um país feito de covardes não precisa de nada que o destrua. Um povo covarde destrói-se a si mesmo. Ele destrói-se a si mesmo dia após dia, nas estradas, nas casas noturnas, nas enchentes, nos assaltos e nos sequestros relâmpagos. Ele destrói-se a si mesmo com baforadas em cigarros de maconha e cachimbos de crack, em bofetadas dadas a torto e a direito em cada cara que se mostre descontente com alguma coisa. Ele, o povo covarde, é autofágico: come-se a si mesmo, de preguiça ou medo de fazer alguma coisa digna de ser feita.

O Brasil não vai se acabar com um asteroide. Ele vai acabar em barranco, para que todos se escorem e descansem, até a morte os tragar.

Outros povos virão, é certo. Este imenso e desprezado continente será ocupado por gente mais preparada. Sempre foi assim: os fortes vencem os fracos. Os despreparados cedem o lugar para os mais aptos. Não tenho dúvidas que não seremos poupados de nossa indolência como povo. Seremos lembrados no futuro como os mongóis de Gengis Kan, um povo bárbaro que veio, destruiu tudo que foi capaz pelo puro prazer de destruir e depois desapareceu se deixar vestígios, sem deixar legados, sem deixar rastros. 

Esta é a realidade do Brasil, que tantos querem ver destruído por um impotente asteroide.

Há, sim, algo definitivamente errado com o Brasil.

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