terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Por que este blog surgiu?

Então, se este blog não é útil a mim mesmo, e provavelmente não é útil a mais ninguém, exceto àquelas pessoas que entram procurando eventualmente um poema ou uma dica sobre problemas com carros e pedágios, então, qual a razão de sua existência?

Eu posso, e qualquer um pode, começar um blog em segundos. Depois, pode ir postando coisas em uma velocidade vertiginosa, e vir a fazer sucesso com isto. Pode mesmo ficar famoso, rico e ser extremamente feliz com toda esta atividade. Em geral, blogar pressupõe algum conhecimento sobre um assunto qualquer, que seu dono domina. Neste caso, o blog é útil aos leitores, e o dono ganha com isto, e ganha mais na medida em que é mais útil à sociedade.

Eu poderia fazer um blog sobre um assunto específico?

Poderia. Sobre um monte de assuntos.

Eu sou alguma autoridade em alguma coisa, que me dê esperanças de fazer sucesso, sendo útil à sociedade com aquilo que publico em meu blog? 

Não, eu não sou autoridade em nada. Gosto de um monte de coisas, conheço algumas com mais profundidade que a média dos leitores em geral, e poderia aprofundar-me ainda mais estudando e me aperfeiçoando sobre algum tema que eu percebesse que fizesse algum sucesso com o público, mas há nisto tudo um sério problema: eu não consigo me apegar a nada em particular.

Eu, por exemplo, adoro literatura. Poderia falar sobre literatura uma infinidade de tempo, mas então, de repente, mudo de interesse, sem mais nem menos. Não que eu não goste mais de literatura. Eu gosto, mas algo atraiu mais minha atenção e eu deixo a literatura de lado por um tempo e parto para outro assunto. Se eu tivesse um blog de literatura, ele seria abandonado por um bom tempo, até que em algum momento no futuro, eu voltasse a ter interesse novamente pela literatura. 

Eu sou assim. É minha personalidade. Sempre foi assim. Eu não saberia mudar. Eu não gostaria de mudar este meu modo de ser.

Então, voltando à pergunta original: por que este blog surgiu?

Ele surgiu em um momento em que a tecnologia dos blogs surgiram. Eu iniciei meu exercício de blogar bem antes do surgimento da plataforma Blogger surgir. E antes do surgimento dos blogs, eu já escrevia minhas coisas em outros lugares. Gosto de escrever. Adoro escrever.

Quando este blog surgiu, eu pretendia tornar em formato digital um conjunto de anotações que mantinha em agendas de papel. Na verdade, eu já transcrevi a Agenda 99 toda para a Internet. Minha agenda já existe em formato digital, embora seja ininteligível, e portanto, inútil, para eventuais leitores curiosos de saber seu conteúdo. Veja: uma agenda com algumas palavras anotadas no calor de uma nova ideia, no fervor do momento em que se está no meio de uma leitura apaixonada, são palavras curtas, criptografadas, que somente quem as escreveu sabe o que significam. Para que outros possam entender seu significado, é preciso por vezes uma longa explicação. Estas explicações, tão necessárias para que um conjunto de assuntos variados possam ter alguma utilidade pública ou mesmo pessoal requer tempo.

Registrar a agenda é simples. Explicar os registros, desenvolver as ideias embutidas nos registros é algo muito mais complexo e difícil, e demorado.

Mas, se a agenda já está praticamente toda transcrita e salva em um meio digital, eu me perguntei se deveria mesmo continuar dando explicações sobre ela ao mundo, dado que o mundo não tem interesse nessas explicações. 

No entanto, eu tenho interesse nessas explicações. Na verdade, devo a mim mesmo isto: não explicações, mas desenvolvimentos. Se anoto algo no fervor de um momento, este algo merece uma atenção posterior, em um momento mais calmo, de maneira mais ponderada, mais meticulosa, mais profunda.

Qual o ganho que as pessoas que vierem a ler isto podem vir a ter? Não sei. Talvez possam rotular tudo como uma mera tentativa mesquinha de buscar chamar a atenção do mundo, ou apenas rotulem a coisa toda como um sintoma de alguma neurose freudiana, e nunca mais retornem a ler nada daquilo que escrevo, mas, e daí?

Eu estou menosprezando meus leitores? Não. Eu estou apenas dizendo que a opinião negativa que os leitores possam ter sobre aquilo que escrevo não deve servir de obstáculo para o desenvolvimento de minhas ideias em público.

Eu ainda acho que devo desenvolver publicamente neste blog minhas ideias rapidamente anotadas em agendas a uma década atrás, ou isto não é mais uma necessidade?

Sim, eu devo, mas este blog pode se prestar a mais outras finalidades. Uma delas, por exemplo, e a de substituir as agendas como fontes originais de anotações. Quando se escreve, e só quem escreve sabe disto, algo mágico acontece, e as palavras brotam de uma forma tal, e em um arranjo tal que muitas vezes leio coisas que tenho certeza que fui eu quem as escrevi, mas que parece terem sido escritas por outra pessoa, porque sei que em geral nossos pensamentos vagam por nossas mentes de uma maneira muito pouco organizada, e quando os capturamos em forma de palavras, nas postagens dos blogs, ou nas páginas de agendas, ou seja lá onde for que consigamos congelá-los em um formato definitivo e material, eles, os pensamentos, brilham com um beleza que me espanta.

Não estou me vangloriando das coisas que escrevo e nem de meus pensamentos. Estou me referindo ao mecanismo mágico que é escrever, ou se expressar, seja pintando, cantando, falando, discursando, dançando, trabalhando ou exteriorizando de qualquer maneira imaginável aquilo que temos em nossas mentes. É como se pudéssemos congelar em um bloco de gelo os frágeis lampejos dos diamantes, ou se pudéssemos tornar em formas fixas as etéreas formas das nuvens. É como algodão-doce!

Devo a mim mesmo explicações sobre as coisas que anotei, e imponho a mim mesmo a tarefa de desenvolver até onde for possível as ideias criptografadas, compactadas em palavras enigmáticas sobre páginas as quais o mundo não tem acesso.

Pode ser que haja pessoas que ainda gostem de algodão-doce.

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