quarta-feira, 29 de maio de 2013

Eu sou cristão?

Eu sou cristão?

O que é ser cristão?

Sim, eu nasci em uma época e em um lugar onde quase todas as pessoas são cristãs. Isto pode parecer bobagem, mas não é.

É claro que vivemos em um mundo em constante mudanças, mas eu não nasci hoje. Eu nasci em 1970. Este fato faz toda a diferença.

Ter nascido no Brasil, um país tipicamente católico, fez com que eu tivesse, dentre os limites das probabilidades, 90% de chance de ter nascido de pai e mãe católicos. Foi o que aconteceu comigo. Sou filho de pais católicos.

O Brasil é um país católico, ou melhor dizendo, grande parte da população brasileira é católica, e em termos mais amplos, cristã, porque foi um país descoberto por portugueses, que eram pessoas cristãs. Antes, havia os índios, mas não sou descendente diretamente de pais índios, e mesmo que fosse, em 1970, se meus pais fossem índios, provavelmente já seriam cristãos também. O processo de cristianização dos índios de toda a América foi uma das principais razões ou desculpas para que europeus a conquistasse e implantasse seu modo de vida aos habitantes nativos.

Se eu tivesse nascido, por exemplo, em 2000, eu teria 13 anos hoje, e teria uma chance razoável de ser cristão, mas não necessariamente católico. Talvez, com 13 anos de idade, sequer tivesse pensado no assunto, o da religião, se meus pais fossem apenas um pouco liberais.

Mas não em 1970. Não no interior do Estado de São Paulo. Não no Brasil governado por militares, em plena Guerra Fria.

Assim, logo que nasci fui batizado, como manda a tradição. Depois passei a ir à igreja, nas missas, e minha vida foi sendo moldada conforme o modo de vida eurocentrista.

Faz alguma diferença se dizer cristão ou não hoje em dia?

Creio que sim.

Eu não posso mudar nada de meu passado. E meu passado cristão fez com que eu seguisse certos rumos e tomasse certas decisões e tivesse certas ideias e opiniões que são muito difíceis de serem mudados hoje em dia, embora que não impossíveis.

Ser cristão em 2013 é muito diferente de ser cristão em 1973, ou 1983, ou mesmo em 1993. O mundo mudou muito desde então. E afirmar-se cristão nos dias de hoje requer algo mais que simplesmente fé e coragem, mesmo porque a fé e a coragem alimentam-se a si mesmas quando não ameaçadas, e um cristão afirma-se sempre cheio de fé e proclama com coragem esta fé, porque na realidade não há perigo algum em se fazer tal afirmação. Felizmente, vivemos em uma época relativamente pacífica em termos de desafios explícitos à nossa fé, ao contrário de outras épocas, em que ser ou não católico ou protestante era uma exigência e não uma escolha, e afirmar publicamente sua fé diante de adversários religiosos poderia significar a perseguição, a escravidão, quando não a própria morte.

No entanto, ser cristão em 2013 requer menos coragem e mais inteligência. Os desafios são muitos e embora que não haja, ainda, nenhuma ameaça à vida de um cristão em nosso mundo ocidental dito civilizado, resta ao cristão de hoje a ameaça à sua integridade interna, à seu direito de ter fé sem ser tachado de atrasado, retrógrado, conservador, e por fim, ser tachado de ser um cidadão inferior, porque incapaz de ver uma verdade que para os não cristãos, ou mais especificamente para os ateus, é óbvia: Deus não existe.

Não me considero católico, mas nem por isso deixo de me considerar cristão. E mais: não me considero um idiota, e não creio que seja uma coisa boa ter minha integridade pessoal psíquica questionada, perturbada ou molestada por quem quer que seja que se julgue dono de alguma verdade superior.

Sim, eu sou cristão.

E vou dizer porquê.

Nenhum comentário:

Postar um comentário