segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Definitivo e imutável

A vigésima primeira pergunta da série que fiz em 2001 decorre da pergunta anterior. Estamos falando em questionamentos sobre aprimoramentos que pretendemos que ocorram em nossas vidas, e em respostas a esses questionamentos.

Se na pergunta anterior eu afirmo que devo buscar respostas para minhas dúvidas, muitas delas existenciais e difíceis de serem respondidas, a pergunta que faço agora é:

"São respostas definitivas e imutáveis?"

O que tenho de dizer a respeito desta questão é que dificilmente há respostas definitivas e imutáveis para as questões que surgem a respeito da maneira como devemos conduzir a nossa vida.

Evidentemente, há áreas onde há maior grau de estabilidade e certeza, e há áreas onde o terreno é mais instável e no qual constantemente nos vemos mudando de opinião ou postura em relação a um determinado tema controverso.

Por exemplo: em determinado momento fiz a pergunta a respeito do fato de estarmos nós mesmos definitivamente dispostos ou não a implementar algum tipo de mudança em nossa vida. Qualquer que tenha sido a resposta que eu tenha dado em um determinado momento, esta resposta não servirá como resposta à mesma pergunta formulada, digamos, daqui a um ano depois, quando então o contexto de nossa vida pode ter mudado, sem o nosso consentimento, sem a nossa participação ativa, e então somos forçados a dar uma resposta diferente à questão da que demos um ano antes.

Alguns temas envolvendo valores profundos, como, por exemplo, fé, respeito à vida, honestidade, dentre outros, costumam ser temas onde as pessoas têm opiniões mais estáveis. O mundo pode girar em diferentes rumos, mas as pessoas costumam ter certas convicções firmemente estabelecidas sobre esses temas e, embora precisem mudar ao longo do tempo, não abrem mão desses valores, e não os sujeitam a nenhum tipo de mudança mais profunda ou séria. Podem ceder aqui e ali em pequenos pontos secundários, mas não mudam o que é a essência daquilo que pensam sobre o tema.

Assim, cuidado com respostas definitivas e regras de vida imutáveis. Em geral não são assim tão definitivas e imutáveis, e insistir em querer mantê-las em nossas vidas de maneira forçada e não natural pode acabar fazendo com que vivamos vidas limitadas, engessadas e infrutíferas.

É preciso certa flexibilidade para se viver. Não se pode, e não se deve, mudar os rumos de uma vida ao sabor do vento, mas não se pode viver uma vida com regras lavradas em pedra.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Respostas

Depois de ter feito uma série de perguntas e ter, na décima nona, expressado certa dúvida a respeito da importância de se preocupar com autoajuda, fiz o vigésimo questionamento, ainda cético de que um esforço neste sentido poderia valer a pena.

A vigésima questão foi:

"Por que acredito que tenho respostas?"

Convenhamos: é mais fácil fazer perguntas difíceis do que respondê-las.

Há na mídia e no submundo das filosofias de vida e dos conhecimentos consagrados uma tendência a se considerar mais importantes as perguntas do que as respostas. É comum vermos vários sábios e mestres alardeando que o importante não é tanto dar uma resposta a uma pergunta propriamente falando, mas sim a própria formulação das perguntas.

Claro que formular perguntas é importante, e a ênfase dada mais à pergunta que à resposta está no fato de que não adianta muito ter a resposta para uma pergunta que não é relevante, ou que não é a pergunta que elucida um estado de coisas, uma situação desconhecida, ou que não é uma pergunta-chave, que representa o âmago de um estado de conhecimento e que por si só representa um desafio cuja solução pode não ser dada, mas que leva o conhecimento a um novo patamar, impossível de ter sido pensado antes de a pergunta ter sido feita.

Mas as perguntas que eu andei formulando são perguntas de cunho pessoal, íntimo, e não perguntas necessariamente filosóficas ou científicas. Quer dizer, ao menos as dezoito primeiras são assim, muito pessoais e que demandam respostas igualmente pessoais. Veremos que as demais perguntas em certo momento deixam de ter caráter pessoal ou psicológico e passam a ter cunho mais objetivo e genérico.

Ao fazer a minha série de perguntas, eu era movido mais pela dúvida existencial que pela mera curiosidade.

Ora, fazer uma pergunta movido pela curiosidade não me impõe o dever de respondê-la. E, ainda que eu tente respondê-la, se tiver sucesso, sentirei o prazer de descobrir um novo conhecimento, e se fracassar, não terei nenhuma perda maior do que uma mera sensação de frustração. A curiosidade é um tipo de sensação que tem mais um caráter de prazer do que de dever. Ser curioso, cheio de perguntas não respondidas não impede ninguém de viver a vida da maneira que quiser. A curiosidade é apenas um tempero a mais.

Já uma pergunta movida por uma dúvida existencial tem uma seriedade que não pode ser desprezada. Uma pessoa que tem uma dúvida existencial pode ter sua vida paralisada, e um sujeito pode interromper planos e projetos de vida até que tenha a resposta àquilo que o incomoda. Uma dúvida existencial é como um mapa errado. Uma pessoa pode perceber que está em um rumo incerto ou mesmo errado, e de repente, pode se dar conta de que não pode seguir adiante até que ache o rumo certo que a satisfaça. Achar um rumo, achar uma resposta a uma dúvida desta magnitude não tem nada a ver com satisfação intelectual ou prazer diante do conhecimento. Tem a ver com razões complexas que levam as pessoas a escolher profissões, escolher onde viver e morrer, selecionar com quem viver, se relacionar, casar e tecer laços de amizade, e que podem representar decisões que envolvem vida e morte, escolhas filosóficas, religiosas, políticas, financeiras, espirituais.

Uma pessoa que se depara com uma dúvida existencial precisa ter uma resposta.

Assim, diante da vigésima pergunta, onde questiono minha crença na possibilidade de que eu poderia responder às questões que eu já havia formulado, eu só poderia responder, intuitivamente na época, e racionalmente agora, que eu acredito que eu posso até não ter agora as respostas completas, conclusivas e satisfatórias para as perguntas que fiz a mim mesmo, mas que eu tenho o dever de tentar respondê-las, seja lá quando for, custe o que custar, porque sei que são perguntas existenciais e não meras perguntas que são interessantes, oriundas da curiosidade despertada pela leitura de livros de autoajuda, mas que não são importantes ou relevantes.

Eu tenho tentado dar respostas. 

As perguntas são importantes, dizem os sábios, e talvez até mais do que as respostas, mas perguntas precisam de respostas. Diante de uma pergunta que não quer calar, temos o dever de tentar respondê-las.

Eu tenho tentado, e se este blog parece não ter as respostas, ou se ele aparenta não espelhar nenhum tipo de esforço de minha parte neste sentido, o que tenho a dizer é que as respostas quase nunca se dão por meio do mero trabalho de escrever sobre elas. 

Se quero respostas, devo primeiro buscar ajuda junto àqueles que já se defrontaram com as mesmas perguntas. É preciso não inventar a roda, embora que nem sempre a roda que encontramos nos anais da história se encaixe com a perfeição desejada, pronta para ser usada sem remendos em nossas vidas únicas e particulares. Em geral, achamos meias-respostas, achamos respostas incompletas, parcialmente adequadas, e nos esforçamos para poli-las, para adequá-las ao nosso mundo particular.

As perguntas são antigas, e eu avancei bastante em minhas pesquisas sobre elas. Eu tenho tentado compartilhar meus esforços em desbravar este estranho mundo do existir através deste blog. Essas narrativas estão longe de ser as leituras mais interessantes do mundo, mas escrevê-las tem sido um trabalho gratificante, e espero que outras pessoas possam tiram algum proveito.

Não é muito, mas é que a mente é uma lebre, e nossos dedos, tartarugas.

Paciência.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O cansaço da dúvida

Dando continuidade à série de perguntas sobre autoajuda que fiz em 2001, abordo agora a décima nona questão.

Depois de dezoito perguntas feitas em um impulso, a décima nona questão trás uma pontada de ceticismo com relação a todas as perguntas anteriores e ao processo de autoajuda em geral.

A Décima nona pergunta foi:

"Por que alguém deveria se preocupar com as perguntas acima (ou abaixo)?

Eu me preocupei com as dezoito perguntas feitas anteriormente, tanto que estou tentando dar uma resposta satisfatória a elas hoje, doze anos depois de tê-las formulado. O que a pergunta cética acima aparentemente foca é no interesse que o assunto poderia despertar em qualquer outra pessoa que não eu mesmo. Ora, na época em que a formulei, eu não tinha um blog em que postava meus pensamentos, perguntas e respostas sobre aquilo que andava pensando, nem tinha ideia de que um dia iria tornar públicas essas questões. 

Então, este "alguém" da pergunta sou eu mesmo. Na verdade, a pergunta deveria ter sido formulada nesses termos: por que eu deveria me preocupar em responder as perguntas acima e abaixo.

O "abaixo" em questão deixa implícito que esta não seria a última pergunta, e de fato não foi. Então, por que uma pergunta cética de repente irrompe do nada e lança uma pincelada de dúvida onde dúvidas não faltam, somente para complicar ainda mais a situação?

Esta é o que podemos chamar uma metapergunta, uma pergunta sobre perguntas.

A resposta é que eu, e não simplesmente alguém, devo me preocupar em responder as perguntas acima e abaixo e além que fiz a mim mesmo sobre o assunto autoajuda, autoaperfeiçoamento, crescimento e filosofia de vida porque eu não poderia, e não posso, viver sem um rumo que eu ache que seja o correto para conduzir minha vida.

É uma resposta que dou hoje, uma resposta simples e básica, mas fundamentalmente existencial. 

Uma resposta existencialista para uma questão existencialista.

A questão é realmente existencialista?

Ela é, e não é a única, embora talvez seja a primeira a ser expressa em palavras em um pedaço de papel, e preservada para durar por um tempo que seja maior que os poucos segundos em que esse tipo de questão brota em nossa consciência, em momentos obscuros, nas madrugadas, nas horas de frustração e desespero, nas desilusões e fracassos, para desaparecerem de repente, deixando uma nódoa de amargor como quando mordemos uma semente amarga em meio a uma fruta doce e suave. 

Perguntas existenciais são nuvens negras que surgem no céu de nossas vidas e desaparecem de repente, exceto se as fotografamos, exceto se as anotamos em nossas agendas pessoais. Assim, congeladas, elas ficam adormecidas, esperando uma resposta, como aqueles insetos e répteis embalsamados que vemos em vidros cheios de clorofórmio nas salas de laboratórios. Olhamos para elas, horrorizados, buscando entendê-las.

A dúvida cansa.

Por que tantas perguntas? Por que tanta dúvida? Por que não deixar tudo isso de lado e seguir adiante como se nunca tivéssemos tido alguma dúvida mais séria a respeito do existir?

Não, eu não posso me enganar.

Nada é mais importante que viver, e eu não me deixo iludir por qualquer outra questão que tente se sobrepor a este fato.

Viver é o mais importante, e para viver, eu preciso de razões para os meus porquês.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Velhos planos

A décima oitava questão com relação a autoajuda, dentre uma série que fiz a muitos anos atrás, relaciona-se com velhos sonhos e planos. E também, obviamente, com desapego emocional do passado.

A pergunta foi formulada nos seguintes termos:

"Como se desapegar de velhos planos e sonhos?"

Eu sei que cada pessoa é única e que cada uma pode ter tido ou não sonhos e planos não realizados. E eu sei ainda que cada pessoa tem uma maior ou menor ligação com seu próprio passado, com seus velhos sonhos e planos, e que cada uma tem estratégias próprias para seguir com a vida sem o peso de sonhos e planos fracassados. Eu, no entanto, ainda não resolvi essa questão e sigo em frente ruminando as coisas que não consegui digerir ao longo dos anos.

Talvez alguém possa dizer que tudo não passa de uma questão de mero egoísmo, e que uma pessoa que não consegue se desapegar de seu passado e de seus velhos planos é porque é egoísta e não admite não ser intimamente reconhecida como perfeita. Pessoas menos egoístas simplesmente aceitam que são falíveis, erraram em suas intenções passadas, dão a questão como encerrada e seguem em frente.

Eu acho que pode haver, sim, um componente de egoísmo ao não se admitir uma derrota, ainda que consumada a muito tempo no passado. Mas não é meramente uma questão de egoismo. Aceitar-se como um ser humano falho é uma constatação natural e sensata. Agora, devemos admitir que somos seres que aprendem com a experiência de vida. Simplesmente dizer que errei e não tirar proveito da experiência do erro é condenar-me a errar novamente.

O que podemos aprender com nossos planos que não fomos capazes de implementar da maneira que imaginávamos?

Eu aceito que falhei, mas e daí? 

Não, eu não posso ver as coisas como simplesmente erros que ocorreram por mero acaso. Eu quero saber onde errei, porque errei, e com não errar novamente. Eu ainda não aprendi a me desapegar de velhos planos e sonhos sem tirar algum tipo de proveito deles.

É frustrante, admito, conviver com este problema não resolvido.

Falarei mais sobre este problema e esta frustração ao longo do tempo. Por ora, é bom saber que essa pergunta, ainda que não respondida, acabou por me levar a outros questionamentos. Nesta época de minha vida, devo reconhecer que eu não sabia responder minhas próprias dúvidas, mas de alguma forma já sabia muito bem fazer minhas próprias perguntas confusas.

Velhos planos e sonhos: como desapegar-se deles? Esta é mais uma bela pergunta não respondida.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Desapego

A décima sétima pergunta que fiz sobre autoajuda, dentre o total delas, dá um passo adiante em termos de raciocínio e aborda um tema que considero ainda não resolvido, passados doze anos do questionamento original.

Trata-se do tema do desapego.

Sempre que falamos em mudança, pensamos naquilo que vem à frente, e pouca atenção é dada àquilo que é deixado para trás. No entanto, não é fácil deixar coisas para trás.

Deixar coisas, pessoas, lugares, sentimentos, projetos e sonhos para trás é, talvez, uma das mais dolorosas experiências que um ser humano pode ter de enfrentar durante uma vida.

Eu fiz a décima sétima pergunta porque, no fundo, eu pensava em mudanças, mas ao mesmo tempo já sentia a dor de possíveis perdas que teria de sofrer no processo de mudança.

A pergunta que fiz foi:

"O que fazer (e como se desapegar) com aquilo que começamos e não terminamos?"

E ao longo dos anos, pensei muito sobre o tema e o problema que ele encerra.

Evidentemente, não poderia dar uma resposta definitiva para a questão neste simples post. Por isso, aviso ao leitor que caso venha a se interessar pelo assunto, que torne a ler sobre o tema neste blog. A questão do desapego é complexa e profunda, e está presente na vida de todos, quer queiramos ou não.

Mas note: a pergunta toca inicialmente no tema apenas tangencialmente. Eu pergunto mais sobre projetos inacabados do que sobre o desapego em si. 

Projetos começados, mas não concluídos. Quem não os tem?

Como não lamentar o tempo perdido, as ilusões ingênuas, a esperança e o enorme esforço inicial, o investimento que fizemos em busca de algo que agora nos parece fora de sentido, inalcançável, indesejável, mas ao mesmo tempo querido, digno e terno, e cuja lembrança não somos capazes de fazer desaparecer, e cuja chama ainda tenuemente brilha no fundo de nossa escuridão de sucessivos fracassos?

Vou ser B, mas não renego que fui A. Não posso renegar, não devo renegar e não quero renegar o passado, ainda que salpicado com as tintas dos dolorosos fracassos e planos infrutíferos.

Quem poderia dar uma resposta a esse anseio de dar um tratamento adequado ao passado? Como dignificar nossos erros e seguir em frente? Como encarar o futuro diante da enorme ruína inacabada de nossa vida projetada em sonhos inviáveis?

Sonhos são como filhos. Não podemos simplesmente juntar pedaços rotos de peças não encaixadas, colocar tudo em uma caixa de sapatos e enfiá-la em um sótão, porão ou baú e esquecê-la por um longo, longo tempo. Podemos menos ainda colocar os restos na caixa e a caixa na lata de lixo, e acordar um dia e lembrar-se de que aqueles retalhos velhos poderiam ser emendados, recuperados, limpos e enfeitados, e juntados em uma forma que poderia ser bela, útil, terna e acalentadora, porque eles estão no lixo, perdidos para sempre.

O mundo recicla as coisas físicas que jogamos de verdade no lixo. Se não os recicla, ao menos nós os perdemos de vista definitivamente. Mas não podemos fazer o mesmo com nossos pensamentos. Não se pode esquecer que se sonhou um dia em ser astronauta, bailarina, pianista ou médico. Não se pode esquecer da mesma maneira que se esquece de um trapo que atiramos fora depois de anos de uso.

O que fazer com os nossos planos não concluídos?

O que fazer de nosso passado?

Eu tenho pensado nisso intensamente.

Eu não posso esquecer. Simplesmente não posso.