Dentre as muitas possíveis ideias que eu poderia discutir neste blog, discutirei primeiramente a própria existência dos blogs.
Eu poderia falar de outros assuntos, tal como música, política, finanças e astronomia, mas inicio pelo tema da literatura porque é disso que este blog trata: ele é uma ferramenta literária, mais que qualquer outra coisa.
Um blog pode prestar-se a uma série de utilidades, mas em geral podemos classificá-los entre blogs pessoais e comerciais, quer dizer, blogs que existem e pertencem a pessoas comuns e blogs que existem e pertencem a empresas.
Evidentemente, este blog é pessoal.
Ele não visa (ainda) a vender nada. Ele visa a disponibilizar meus textos, que tratam de uma variedade de assuntos, sem maiores pretensões financeiras.
Eu poderia considerar meus textos como não disponíveis ao público, e escrevê-los só para mim, como um mero registro privado.
Por que não mantenho meus textos privados? Por que escrever e disponibilizar ao mundo o que se escreve?
Se o que escrevo não visa a vender nada para ninguém, então posso, despretenciosamente, chamar meu blog de não-comercial, pessoal, e por fim, literário. Não se pode concluir daí que ele tenha alguma qualidade literária, mas, de qualquer maneira, ele é uma forma de literatura.
E ele é público. Logo, as pessoas podem ler os textos e gostar ou não, sem maiores implicações.
Se o que escrevo é uma forma de literatura, e se esta literatura é pública, então podemos pensar em porque escrever e depois, podemos pensar em porque divulgar o que se escreve.
Porque eu escrevo um blog?
Eu escrevo este blog porque eu gosto de escrever.
Eu gosto de escrever faz um bom tempo. No momento em que escrevo esse texto tenho quarenta e quatro anos. Mas aprendi a escrever, quer dizer, fui alfabetizado quando tinha meus seis, sete anos. Aprendi a escrever em 1977. Sei escrever alguma coisa a trinta e sete anos.
Evidentemente, qualquer pessoa que tenha frequentado uma escola e tenha sido alfabetizada poderia ser classificada como escritora, se assim fosse tão simples. Não é este o caso, e de fato, eu não posso dizer que o que escrevi durante meus anos de escola tenha qualquer coisa de literária.
Como posso saber se o que escrevi é ou não algo de aspecto literário ou não?
Bem, penso que basta eu fazer um breve apanhado daquilo que escrevi ao longo da vida, e então posso saber desde quando venho escrevendo, e o que venho escrevendo sob o ponto de vista estritamente literário.
Antecipo que, qualquer que seja o resultado desse apanhado, ele não acusará de forma alguma que eu seja um escritor profissional.
Não, eu escrevo mais por prazer e consumo próprio que por qualquer outro motivo. Já arrisquei, admito, alguma coisa mais séria, mas foi apenas uma aventura. Hoje, sou um mero apreciador da arte de escrever.
Antes de um apanhado geral sobre o que escrevi, resta saber porque disponibilizar o que escrevo ao público.
Mas, nem tudo que escrevi foi disponibilizado ao mundo. Este blog é meu atual esforço literário, mas ao longo dos anos escrevi outras coisas, em outro formatos, e nunca disponibilizei nada a ninguém. É verdade que o surgimento da internet representa para mim, para todas as pessoas que gostam de escrever no mundo e para o mundo como um todo um marco inigualável em termos de facilidade de socialização de textos, mas afirmo categoricamente que já escrevia antes da internet surgir. O surgimento da internet apenas facilitou a disponibilização dos textos, penso eu.
Quando comecei a ir para a escola, em 1977, eu fui aos poucos aprendendo a escrever. Escrevi coisas que era preciso escrever, mas cadernos escolares não são formas tradicionais de expressão artística e não são considerados literatura.
Então, o que escrevi de literário ao longo de minha vida?
Preciso urgentemente fazer este inventário literário, mas não agora. Farei-o nos próximos textos, é certo.
Agora, tratarei da ideia da literatura como forma de socialização.
A literatura não técnica, a literatura não informativa, não comunicativa, não jornalística, a literatura verdadeiramente artística, não precisa ser disponibilizada ao público.
Evidentemente, a maioria das pessoas que escrevem o fazem pensando em um público que lerá aquilo que estão escrevendo. Mas essa verdade não precisa ser um regra, e muitas vezes não é.
Cito como um exemplo as cartas.
Ninguém escreve uma carta pensando em publicá-la. Mas elas muitas vezes são publicadas. Quem sabe um dia publiquem e-books de literatura reunindo coleções de e-mails trocados entre personagens de grande valor artístico, e então veremos que a tradição de se resguardar para a posteridade qualquer forma de obra escrita de pessoas dotadas do dom literário continuará, apesar da era digital.
Afinal, um conto de um Machado de Assis não seria menos doce ainda que fosse originalmente escrito em um arquivo do Word e encaminhado a um seu colega via e-mail. Creio que a forma digital não representa problema algum para aquele que escreve.
Aliás, eu só me interessei por computadores devido ao enorme potencial que eles mostraram na edição de textos. Esse assunto é fascinante, e falarei sobre isso em breve.
A questão é: um texto literário só é uma forma de socialização se ele, ainda que disponível ao público, seja de fato lido. Um texto meramente publicado, mas não lido, não comunica nada, não liga escritor e leitor de maneira alguma, porque falta exatamente a ponta da corrente de comunicação, que é o leitor. Logo, a literatura só é uma forma de socialização na medida em que as pessoas que escrevem encontram pessoas que leem seus escritos. Do contrário, escreve-se para todos, mas o texto é como um grito no deserto.
Este é o grande drama do escritor: encontrar quem se disponha a ler sua obra, e assim, satisfazer seu anseio de comunicação. Entendo que só possa ser este o desejo de quem torna público uma sua obra: a de vê-la lida por quem quer que seja. E então, eis a frustração e terror de qualquer escritor que publica: não ser lido.
Não é o caso se se escreve para si mesmo, ou para alguém que irá necessariamente ler o que o escritor produz. Uma carta que chegue ao seu destino cumpre sua função, e é lida por aquele que tinha de lê-la. Consuma-se o processo de comunicação desejado pelo autor e não se pode falar em frustração no sentido de que gritou-se no deserto. O leitor pode apreciar ou não o estilo, o conteúdo, mas não pode dizer que não foi alvo da mensagem a ele especialmente endereçada.
E há aquele que escreve para si mesmo, que tem em si mesmo seu alvo, e que lê silenciosamente sua própria obra, seja por que motivo for que não a divulga, e que assim também não se frustra. Pelo contrário, tem em si mesmo o seu melhor e mais perfeito público. Além do mais, se não gostar da própria obra, pode refazê-la da maneira que quiser. O escritor egoísta é também o mais elogiado, porque não tem grande chance de falhar.
Verdade esta última constatação?
Nem sempre. A história da literatura está repleta de obras destruídas pelo próprio autor, que na sua exigência de perfeição inatingível, preferiu a destruição do imperfeito, ainda que magnífico aos olhos alheios, que a mácula a seus próprios olhos insaciáveis.
Nestes casos, o escritor egoísta é também o mais criticado, porque nunca tem chances de acertar.
Logo, é o gosto do artista, do escritor, que define o que pode ou deve vir a público ou não. Ele sente que só pode compartilhar algo que ele próprio ache digno de algum merecimento, que ele ache que tenha um valor tal que seja possível de apreciação por parte de outros que não somente ele.
Quer dizer: publica-se somente aquilo que é suficientemente bom, e tem-se que aquele que publica é um generoso, pois quer que outros mais sintam o prazer que sentiu sozinho, e previamente, contemplando a própria obra.
Então, publicar requer três componentes: gosto adequadamente apurado para a apreciação da literatura semelhante a que se propõe a escrever e para a própria obra, generosidade para permitir que outros mais possam vir a sentir algum prazer com a obra tal como o próprio escritor sentiu ao vê-la pronta, e por fim, alguma humildade para aceitar que há gostos diferentes do seu próprio, e que nem todos sentirão o mesmo prazer que ele, dado que pessoas são naturalmente diferentes, e aceitar eventuais críticas negativas a respeito de sua obra de maneira leve e serena, porque um escritor sereno deve ter sensibilidade o bastante para saber que jamais agradará a todos.
Eu tenho esses três atributos? Se você escreve e publica, você os tem?
Veremos mais sobre gosto literário, generosidade e humildade nos próximos textos, pode apostar o seu chapéu que sim. E farei meu inventário, pode apostar uma orelha. Eu garanto.
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