quarta-feira, 8 de maio de 2013

Colapso brasileiro

Parece que a sociedade brasileira está vivendo o começo de um colapso social. 

As instituições existem, o Estado existe. As pessoas estão aí, vivendo e trabalhando, mas há algo sintomático nisto tudo. Há uma forte sensação de que as coisas não vão bem, e não tem nada a ver com o crescimento do PIB ou dos juros, nem com Mensalão ou com qualquer um dos assuntos do dia-a-dia dos jornais e sites país afora.

O que percebo é uma corrosão de valores tidos como elementares para que se tenha uma sociedade, valores que mantêm uma sociedade coesa e funcional. Percebo uma inversão de valores, onde o certo passa a ser o errado, e onde o que era errado e condenável até ontem passa a ser o correto, o defensável, o exemplo a ser seguido no dia de hoje, sem aviso prévio. Se não parecesse tanto com um estado de paranoia extremista, eu diria simplesmente que nossas instituições e nossa sociedade estão contaminadas ou mesmo já dominadas pelo narcocapitalismo internacional espertamente disfarçado de esquerda militante. As FARCs venceram, e mandam na América, de Norte a Sul, sem exceção. Eles estão em postos chaves dos governos, nas ONGs, manipulam as mídias e fazem a cabeça da população para que todos liberem geral e consumam muita, muita droga, ou muito, muito de tudo aquilo que eles têm para nos vender a preço de ouro, mas que não podem vender abertamente porque os governos não deixam.

Mas não, não vivemos sob um governo fantoche. Dilma não é o braço político dos barões. O que vivemos é somente o resultado de décadas de miséria e ignorância plantadas por governos brasileiros passados e pela sempre leniente e atrasada sociedade brasileira, que agora não sabe como resolver o problema da violência, do atraso social e da irrelevância econômica, depois de alguns anos de arremedo de progresso, desenvolvimento e sanidade, que já passaram e que agora são apenas vagas páginas nos livros de História.

Sem conspirações: somos apenas um país com muitos milhões de ignorantes que não sabemos como resolver os problemas que nós mesmos criamos.

Não, a solução não está no comunismo. Não, a solução não está na Copa do Mundo, nem nas Olimpíadas, nem nos movimentos sociais. A solução, seja ela qual for, não está lá fora, nem em fórmulas antigas e desgastadas. Nenhum país virá em nosso socorro. Nós não somos um Haiti. E nenhum filósofo morto nos dirá qual caminho a seguir. Nós não somos a Rússia. Mas, ainda assim, se nada for tentado, nós simplesmente nos desintegraremos, como a carcaça de uma grande baleia encalhada em uma praia remota, e o mundo seguirá sem nós.

Não acho que viverei mais cinquenta anos para ver o Brasil se tornar grande. Ele já é grande. Ele sempre foi grande. Não é tamanho o que esperamos deste país. Não é um PIB grande que marca uma grande nação. Ao envelhecer, percebo que venho ouvindo este canto de sereia do Brasil grande desde quando tinha meus seis anos de idade. Agora, não espero avanços. Espero somente que a vida volte a ser como já foi. Sim, nós já vivemos melhor do que estamos vivendo hoje, em muitos aspectos, posso afirmar com certeza. Mas simplesmente para correr atrás do tempo perdido, é preciso que mudemos nosso modo de ser. Se não mudarmos, nada muda.

Mas, creio que uma das coisas mais difíceis de se mudar é a mente humana adulta. Nós não temos conhecimento suficiente sobre como fazer isto. Nós não temos tecnologia para fazer isto. Nós, ainda assim, poderíamos ter este poder, o de fazer de um analfabeto um cidadão instruído, ou de um usuário de crack um cidadão sóbrio, ou de um criminoso um cidadão íntegro. Mas, se tivéssemos este poder tecnológico, não teríamos o poder legal, nem ético, de mudar as mentes das pessoas. Se assim fosse, onde entraria o direito do preguiçoso de optar pela preguiça, e não pelo trabalho, e o direito do criminoso de optar pelo crime em vez de optar pela vida social normal, cheia de regras, segundo ele próprio, absurdas, totalitárias e limitadoras de suas liberdades pessoais?

Pois bem, as pessoas não podem ser mudadas, senão por vontade própria, e os brasileiros não querem mudar. Eles não sabem que precisam mudar, mas ainda assim, se soubessem, eles achariam que não precisam mudar, e não mudarão, não em um futuro próximo. Além do mais, a Democracia dá a toda pessoa a liberdade de não mudar, de ser o que ela deseja ser, sem mais. Assim, a Democracia, que permite a todos quase tudo, será a espada que defenderá o caos social. A Democracia, legitimando a estagnação social de uma maioria, ata as mãos da minoria que busca mudanças. 

A Democracia moderna, tal como o computador, a estação espacial e a terapia genética, é uma invenção humana recente, sofisticada, e por isto mesmo, complexa e frágil, e não foi feita para sobreviver em meio a pessoas que não a valorizam. Favorável a uma maioria que não a abomina, mas nem por isso a respeita, a Democracia ata as iniciativas de quem a defende, e por isso, morre junto com seus defensores. A Democracia, ao permitir que os que não a respeitam atentem contra ela própria, suicida-se, porque ela, sem quem a defenda e a respeite, não é nada. Uma lei que não é respeitada, é letra morta, e portanto, não é lei. Uma Democracia calcada em leis que ninguém respeita não é Democracia.

Ora, nós, brasileiros, queremos os direitos garantidos por uma Democracia de nação civilizada, mas  não o dever de respeitar as leis que ordenam uma sociedade, emanadas por esta mesma Democracia. Democracia moderna em meio a uma sociedade que não a respeita é, no máximo, falsa Democracia. Não defendo de forma alguma um futuro sem Democracia. Logo, sou forçado a admitir que o jeitinho brasileiro venceu mesmo o mundo normal e democrático das regras, e que seremos o eterno pais de malandros, o que não é nem deveria ser novidade para ninguém, exceto que apelar para o jeitinho brasileiro nada mais é que enfiar uma faca nas costas daquela que o defende, ou, dizendo ainda de uma maneira mais clara, é preciso que aceitemos que a Democracia nunca funcionará entre um povo que tem por orgulho nacional a sua capacidade infinita de desrespeitar toda e qualquer regra que a própria Democracia lhe impõe. Como a Democracia pode sobreviver onde ninguém a respeita? A Democracia nada pode contra a ousadia do malandro. O Brasil, enfim, torna-se, dia após dia, cada vez mais uma autêntica e legítima Ditadura da Malandragem. Alguns dirão solenemente que caminhamos para uma Anarquia controlada, mas não é esta a verdade. 

Talvez eu não viva o suficiente para ver o Brasil se esfacelar, mas, até prova em contrário, ele agoniza sobre seu próprio peso hoje, agora, neste exato momento, e as crianças degoladas, e as crianças violentadas, e as crianças com os cérebros espedaçados por balas perdidas e balas intencionais, estas são a prova viva de que um país assim não só não durará muito, mas, mais que isto, um país assim não merece durar mais do que já tem durado.

Ou se reconstrói o país sob novas fundações - e essas fundações não são as fundações comunistas carcomidas pela prova da realidade histórica - ou o povo brasileiro destruirá a si próprio, sem guerras, sem lutas, sem revoluções, mas atritando-se, vergando-se sob seu próprio peso, em filas desordenadas, em chacinas corriqueiras, em tiroteios banalizados, em mortes por doenças absurdas, por acidentes absurdos, enfim, destruirá a si mesmo como aqueles animais psicologicamente doentes que viciam-se em comer partes de si mesmos e acabam por morrer mutilados e tristes, incapazes de mudar seu "jeitinho" doentio de ser.

Nós não vivemos uma luta de classes. Nós vivemos em uma UTI sociológica, derrubados por uma doença cultural, mescla de malandragem, ignorância e preguiça. Sim, eu sei, já disseram isto antes. Quem disse, contudo, estava coberto de razão!

Não, a Copa do Mundo não nos livrará de nós mesmos. Antes, e muito depois disto, continuaremos a vida sob toque de recolher, e enterraremos nossos mortos inocentes, sob as barbas brancas de uma Democracia velha e senil, que rirá de nosso luto e dirá: "A culpa é do morto..."

Triste, medíocre, este povo brasileiro passivo, que não reaje...

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