quinta-feira, 30 de maio de 2013

Vivendo o tempo

Eu não sei quanto tempo ainda viverei, mas, de qualquer forma, parece que já posso dizer que vivi o bastante para dizer aos mais velhos, aos contemporâneos e aos mais novos que já vivi meu tempo.

O que é viver seu tempo?

Por milênios, o mundo evoluiu lentamente. Quando digo o mundo, quero dizer na verdade a humanidade. A raça humana sempre mudou lentamente, exceto agora, nos últimos duzentos anos. E tem mais: a raça humana tem mudado com uma rapidez estonteante nos últimos cinquenta anos, e continuará mudando ainda mais rápido nas próximas décadas, se não houver nenhuma ruptura brusca na maneira como o homem vem conduzindo sua existência aqui na Terra.

Quando digo que já posso dizer que vivi meu tempo, quero dizer que já experimentei coisas que agora são coisas do passado, e que foram coisas que foram exclusivas de uma época, que não foi vivida por gente que viveu antes, e nem será vivida depois, porque foram coisas temporárias, fugazes, concluídas.

Um dia desses uma garota de dezesseis anos comentou com minha esposa sobre uma música, Sweet Child o'Mine, dos Guns'n'Roses. Ela disse que gostava muito da música. Mas minha esposa não conhece muito de rock dos anos 80, e não vivenciou o impacto de Sweet Child O'Mine na cultura dos jovens daquela época.

Assim, para uma geração anterior à minha, que inclui uma grande massa de brasileiros pobres, sem instrução e isolados do mundo dito civilizado, o rock, dentre outros fenômenos genuinamente contemporâneos, não faz parte de sua cultura. Meus pais nunca se interessaram por rock. Nunca se preocuparam seriamente com um guerra nuclear e tiveram contato quase nulo com o surgimento dos computadores e da internet.

Já para a geração mais nova, o rock e a música pop pós-MTV, o fim do comunismo, o neocomunismo, a presença constante de drogas, o consumo fácil, uma economia sem inflação e relativamente estável, democracia participativa e meios de comunicação abundantes, como internet, televisão a cabo, vídeo-games e carros baratos, universidades em cada esquina, tudo isto é coisa comum, banalizada, e esta geração não é capaz de perceber que até a poucos anos atrás, nada disto existia.

Fala-se em choque de gerações, e de fato, sinto este choque.

Postei um vídeo do Youtube com uma esquadrilha de caças fazendo acrobacias e soltando fumaça ao som de Europe. Para os mais jovens e para os mais velhos, talvez nada disso faça sentido, mas para mim, para meus amigos, tudo faz sentido. Para os mais velhos, aviões de caça não significam nada, e menos ainda o rock do Europe. Para os jovens, tudo soa ultrapassado, e os aviões não são páreo para os games, e Europe soa brega com aquele visual colorido ingênuo e guitarras frouxas.

Talvez o mundo mude tão rápido no futuro que ter pertencido à chamada Geração Y soe como uma ofensa. Talvez, quem sabe, esta Geração Y se renda aos gostos das gerações anteriores, como a minha e a de meus pais e avôs. Quem sabe a Geração Y seja irrelevante no futuro, por ser exigente e mimada demais. Quem sabe ela seja a última geração civilizada da raça humana.

Não sei. Um F-18 é sempre um F-18, e Europe será sempre Europe.

De que geração eu sou?

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