A trigésima pergunta da série que ando analisando refere-se à insatisfação e a dúvidas. Depois de ter feito perguntas sobre uma série de temas, tais como autoajuda e Filosofia, e tendo chegado à necessidade de se usar algum método para melhor questionar, agora minha dúvida relaciona-se com o tempo e o estado de espírito adequado ou não para se iniciar uma série de questionamentos tal como a que eu venho discutindo aqui, neste blog.
Em geral, podemos fazer questionamentos sobre o que quer que seja em qualquer momento de nossa vida, estejamos com quaisquer estados de espíritos estejamos no momento em que fizermos estes questionamentos. Evidentemente, não somos obrigados a questionar nada, nem devemos sentir obrigatoriamente algum desejo de questionar. Podemos passar a vida sem a necessidade e sem o desejo de questionar o que quer que seja, e nem por isso teríamos vivido pior do que se tivéssemos questionado. E podemos passar a vida a questionar tudo, e fazer de nossa vida um inferno de dúvidas e incertezas.
Assim, fiz a seguinte pergunta:
"A insatisfação é um bom começo para um questionamento?".
A pergunta é simples e direta.
Ela inicialmente revela um fato óbvio: no momento em que fiz esses questionamentos, em um determinado período do ano de 2001, eu andava insatisfeito com minha vida, ou parte, ou aspectos de minha vida. A insatisfação era para mim um estado indesejável, do qual eu tinha que sair. Agora, estando eu insatisfeito, era adequado sair fazendo perguntas para as quais eu não tinha respostas? Seria correto sair desferindo uma rajada de dúvidas em um momento em que eu já não estava sereno e imparcial o suficiente para avaliar a adequabilidade de meus questionamentos? Não seria melhor ir seguindo com a vida e sair daquele estado de insatisfação para então somente depois de estar em algum momento melhor, questionar o que tivesse de ser questionado, mas sem o amargor, sem a agressividade, sem a acidez com que questionava naquele momento em particular?
Sim, talvez fosse possível, e talvez seja quase certo que uma pessoa em um estado sereno de ânimo possa fazer melhores questionamentos do que uma pessoa perturbada por o quê quer que seja que lhe abale a serenidade tão necessária para se questionar.
Mas, pessoas serenas, vivendo em períodos de suas vidas tranquilos e sem sobressaltos, sentiriam a necessidade ou o desejo ou mesmo o dever de questionar o quê quer que seja? Por que deveriam questionar? E mesmo que questionassem, seriam capazes de elaborar dúvidas realmente pertinentes? Em quê a dúvida de uma pessoa serena e em paz difere da dúvida de alguém insatisfeito e em um estado de espírito conturbado?
Não sei dizer as respostas para essas novas questões. Elas são novas no sentido de que não as fiz em 2001, embora estejam subentendidas na pergunta principal acima. Talvez possamos respondê-las mais adiante, em outros posts desse blog, mas agora talvez seja possível tentar dar uma resposta razoável à questão principal, que é o que nos interessa mais.
A insatisfação, ou uma pessoa que se encontre em um estado de espírito perturbado por algum tipo de insatisfação, encontra-se perfeitamente apta a questionar, tal qual uma outra pessoa que goze de perfeita satisfação de espírito. Apenas as questões que emergirão de ambas é que serão naturalmente diferentes, fato este que não invalida o questionamento daquele que está com o espírito perturbado pela insatisfação, nem faz com que este questionamento seja pior ou melhor do que aquele decorrente da pessoa de espírito apaziguado.
Na verdade, a insatisfação é uma das mais legítimas fontes de questionamentos, e não fosse a insatisfação, quase nada seria questionado. A insatisfação é aquela coceira que nos obriga a parar a marcha e olhar para o ponto que comicha e dar atenção a um possível problema. Não fosse a insatisfação, seguiríamos com a vida serena indefinidamente.
Mas, viver é sujeitar-se a comichões. Poucas pessoas podem dizer abertamente que viveram vidas serenas. Certo, podem ter vivido até agora, até hoje, mas não há garantias futuras contra nada, e mais dia, menos dia, a mais serena das vidas pode ser abalada por uma pedra em seu caminho. Para quem nunca pisou em pedras, a coisa óbvia a se fazer quando se depara com uma delas é parar e se questionar: o que é isso? Por que isso? Por que isso logo comigo? Como me livrar disso? Como evitar mais disso? E assim por diante. Viver é tentar viver serenamente, sem garantias, é obvio, mas sempre buscando a estrada menos emburacada.
Não, a insatisfação não se apresenta como um problema para se questionar. Ela em geral é a razão para se questionar. Ela é o motor da dúvida. E não fosse a insatisfação, ainda estaríamos no Paraíso.
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