A trigésima terceira pergunta da série a qual tenho abordado neste blog é uma continuação da anterior, e é uma tentativa de ser sistemático aplicando a sugestão de Kipling sobre o tema do questionar. Como, quando, por que, o que questionar, e assim por diante. Teoricamente, eu faria seis perguntas sobre um dado tema e teria as respostas que satisfariam minhas dúvidas e curiosidades. Era essa a ideia quando de meu questionamento em 2001.
A pergunta é simples:
"Onde questionar?"
Ela é simples, mas inócua. Fiz a pergunta mais como um exercício de disciplina na aplicação da sugestão de Kipling de que seis perguntas podem nos ensinar quase tudo aquilo que precisamos saber sobre algo do qual não sabemos quase nada.
Mas, decepcionei-me. Fizera já três perguntas, e elas pareceram interessantes, tanto que dei-me ao trabalho de respondê-las aqui, neste blog. Mas esta quarta pergunta, usando o "onde", fez romper minha credibilidade quanto à efetividade da sugestão de Kipling. Há perguntas coerentes, mas há perguntas que simplesmente não fazem muito sentido. Onde questionar? Ora, é relevante saber o local onde devo exercitar a prática de colocar meu cérebro para trabalhar em torno de perguntas e suas repostas, ainda mais quando o tema dos questionamentos é a própria insatisfação com a vida?
Alguém poderia dizer que sim, o local onde fisicamente nos encontramos para realizar esse exercício de questionamento é relevante e merece nossa atenção e cuidado. Eu responderia a esse ponto de vista observando que não procuro esse tipo de informação quando busco ajuda em livros, sejam eles de autoajuda ou não. Quando leio um livro, suponho que aquele que se aventurou a escrevê-lo julga ser possuidor de algum conhecimento, e quer compartilhar esse conhecimento com o mundo. Ainda mais, se o livro é publicado por uma editora reconhecida, é de se supor que mais gente acostumada com livros leu o trabalho desse autor e reconheceu a obra como realmente portadora de conhecimentos que merecem ser compartilhados com mais pessoas, e publicam o livro, disponibilizando-o para leitores em potencial. Um leitor, por sua vez, escolhe um livro na suposição de que há nele algum conhecimento que lhe possa ser útil, e que ele ainda não detém, e ao iniciar a leitura, supõe, e admite tacitamente, que o autor do livro sabe mais que ele sobre o assunto em questão. Do contrário, por que ler algo sobre o qual já se sabe tudo de antemão?
Pois bem, um livro de autoajuda pode versar sobre muitos aspectos de nossas vidas, mas há temas que não considero relevantes para minha vida. Como exemplo, cito livros que abordam assuntos que não são de forma alguma embasados em conhecimentos científicos, tais como misticismo, astrologia, filosofias alternativas, técnicas antigas e milenares adotadas por povos tradicionais oriundas de ancestrais e aperfeiçoadas pela experiência de gerações, como acupuntura, dentre outros. Outro desses temas que não creio ter muito a me oferecer do ponto de vista filosófico ou existencialista são as técnicas de arranjo de objetos, moradias e móveis, tal como o feng-shui. Não critico quem gosta do tema, embora ache que não há efetivamente nenhuma comprovação científica sobre o assunto, até onde eu conheça. Também não acredito nos supostos poderes de cristais, pirâmides, budas, cerimoniais de purificação e outros procedimentos cujo objetivo é fortalecer, limpar, purificar ou melhorar um determinado ambiente que ocupamos, como se a causa de nossos problemas e dificuldades na vida fossem exteriores a nós, e limitados apenas aos poucos metros de matéria que nos rodeia, e não por nossa própria personalidade, modo de pensar, cultura, ou por causas exteriores que vão além das paredes, tais como a cidade, o país, o governo, a ideologia e os hábitos sociais que adotamos, dependendo do país ou continente no qual nascemos e vivemos.
Assim, não acredito que o local onde eu faça meus questionamentos de vida sejam relevantes de forma alguma. Claro, eu acho que é melhor pensar na vida em um local calmo, em um horário adequado, longe do barulho e do trabalho, de preferência em um final de semana, sozinho ou com alguém bastante próximo e íntimo, de modo a compartilhar sem medo nossas dúvidas e temores, mas de forma alguma é esse tipo de sugestão que eu procuro quando passo a mão em um livro cujo objetivo é nos orientar rumo a uma vida melhor ou nos propor pontos de vista filosóficos que podem ter o poder de mudar os rumos de nossa existência.
Assim, a sugestão de Kipling parece boa, mas não funciona sempre, porque ao me levar a fazer uma pergunta tola, cuja reposta é inócua ou igualmente tola, secundária ou irrelevante, faz com que eu me comporte como uma pessoa sem bom senso, que não é capaz de perceber o que é acessório e o que é fundamental em um processo de pensamento, e portanto a sugestão de Kipling não é uma ideia que possa ser adotada sistematicamente com resultados satisfatórios.
Essa constatação parece óbvia agora, mas não o era em 2001, quando eu não dispunha do conhecimento de técnicas mais refinadas de se questionar. E, evidentemente, não foi a intenção de Kipling que suas perguntas fossem adotadas por quem quer que fosse como um método de questionamento. O que a falha no método me revelou foi que o autor que selecionou o poema de Kipling não deveria ter dado ênfase a este método simplista, exceto se tivesse explicitamente nos orientado a não o levar muito a sério, por não ser um mero poema capaz de comportar a sistematização de um procedimento mental complexo tal como aquele que eu supostamente buscava nas seis perguntas de Kipling. Mas, o autor, Dale Carnegie, não fez essa observação. Ele simplesmente nos recomendou perseverança, disciplina, leitura atenta, e eu fui em frente, tão crédulo quando uma criança, e gostei do poema, e das seis perguntas, e as coloquei em prática, para no final perceber que elas simplesmente não funcionam como eu esperava que funcionassem.
Qual a resposta à pergunta "onde questionar"?
A resposta é que a mera tentativa de responder essa pergunta tola é uma tolice, e que algo está errado com os livros de autoajuda, porque eles podem ser sinceros em seus intentos, mas nem por isso são perfeitos.
Essa constatação, a de que livros podem ser imperfeitos, me levou a meu questionamento seguinte, que considero importante, e que merece uma atenção especial.
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