quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Abandonando o barco

Certa vez eu disse neste blog:

" Acho que talvez devesse mudar de país, mas ao mesmo tempo acho isso uma derrota."

Por que eu penso que a solução de nossos problemas seja abandonar o Brasil?

Quer dizer, a solução de meus problemas. Não sei se todo mundo tem problemas como eu tinha e tenho. Nem sei se todo mundo acha que pode resolver seus problemas mudando-se de país. Cada um sabe de suas dificuldades e das possíveis maneiras de tentar resolvê-las.

Quando se busca viver melhor em um mundo absurdo como o que vivemos atualmente, há dois tipos de pensamentos iniciais que surgem imediatamente. 

O primeiro pensamento que temos é de que temos problemas. Todo mundo tem. Mas então, quando lamentamos nossa sorte, surge aquela foto de um menininho sem pernas e sem braços pintando um quadro colorido com um lápis na boca, e alguém pergunta: "qual é mesmo o seu problema?"

E então, questionamos se realmente temos ou não algum problema. E muita gente acaba concluindo que não tem problema nenhum, e que tudo é apenas uma questão de ingratidão e má vontade com a vida.

Mas outros seguem afirmando terem problemas, sim.

Então, o segundo pensamento que vem é que se temos problemas, então esses problemas possuem uma causa. Qual é a causa de nossos problemas?

Em geral, ou assumimos que a causa de nossos problemas somos nós mesmos, ou então, não assumimos nada, e colocamos a culpa de nossos problemas nas costas de alguém, ou de algo. Em geral, colocamos a culpa no governo, no Estado, no capitalismo ou no Brasil. Alguns colocam a culpa em quem estiver mais próximo: a esposa, os filhos, a mãe, o patrão, o vizinho, os pais, os amigos, a namorada. E se afasta daquele que lhe parece a raiz de todos os males.

Para aqueles que colocam a culpa no Brasil, a solução de seus problemas parece óbvia: deixar o país e suas mazelas incuráveis, e viver como um rei consumista e festeiro em Miami, em Madri ou em Londres.

Mas eu acho que a vida não é tão simples assim. Não acho que as coisas se resumem em achar que a vida é cor-de-rosa porque temos nossos braços e pernas, nem em achar que somos culpados por tudo que acontece de ruim conosco, ou que a culpa é somente dos banqueiros, dos especuladores ou dos latifundiários, dos corruptos e dos políticos.

Há graus de dificuldade na vida que levamos. E há parcelas de culpa em diferentes esferas do viver. Temos problemas, sim, embora não tão graves quando o de um menininho sem membros, e sim, temos nossas fragilidades. Mas vivemos em um país muito ruim também.

Nada garante que, mudando de barco, indo para Nova York, as coisas serão melhores. Em geral, sim, porque nos livraremos de sérios problemas sociais. Mas não nos livraremos de nós mesmos e nossas fraquezas interiores. Nem veremos muitos problemas graves que vemos aqui no Brasil, e então, nossas fraquezas serão amplificadas pela comparação com um mundo melhor. Nós seremos os graves problemas dos americanos.

Abandonar o barco é uma proposta sedutora. Mas não suficiente.

Ademais, a ideia popular que temos em nossa cultura é a de que quem tem a fama de abandonar barcos em dificuldades em geral são os ratos. E também, a de que o último a sair é o capitão.

O que escolhemos ser: ratos ou capitães?

Ou toda essa história de barcos sendo abandonados não passa de conto da carochinha?

Eu ainda não sei o que pensar.

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