domingo, 2 de dezembro de 2012

Pense com um lápis à mão

Eu disse aqui que li Og Mandino em 1990.

Fico pensando em como nossa memória é falha.

Um livro em geral possui uma quantidade muito grande de informação. Se é uma história de ficção de algum romance, não é tão grave assim que ao longo do tempo esqueçamos detalhes daquilo que acabamos de ler. Em geral, o esquecimento é até bom, porque, apesar de esquecermos os detalhes da história lida, não esquecemos as sensações e emoções que sentimos ao ler o livro, de modo que mesmo depois de muitos anos somos capazes de nos lembrar de um determinado livro e saber se ele é bom ou não. Evidentemente que se o relermos, não temos a garantia de que sentiremos as mesmas sensações da leitura anterior, porque o tempo muda nossas mentes, e pode acontecer de não nos impressionarmos mais com um livro que já nos pareceu impressionante. Isto faz parte de nosso amadurecimento intelectual.

Mas o mesmo não pode ser dito de livros onde o objetivo é passar conhecimento, informação, técnicas, métodos ou conceitos, tais como os livros didáticos, os científicos e também, porque não, os livros de auto-ajuda.

Ler um livro sobre um assunto o qual nos propomos a dominar intelectualmente implica em um esforço não necessariamente de memorização, mas certamente de assimilação, que é um processo bem mais lento e demorado. Na verdade, poucas vezes a simples memorização resolve alguma coisa em termos de consolidação de conhecimentos a longo prazo. A assimilação não dispensa alguma memorização no início, em aspectos secundários do processo. Por exemplo, se estudo um país qualquer e neste país há uma cidade a qual desconheço, evidentemente que preciso de um pequeno esforço de memorização para assimilar o nome desta cidade, mas, na medida em que estudo mais e mais este país e esta cidade, o nome de ambos dispensa o esforço consciente de memorização pura e simples.

Acontece que estudar um determinado assunto, seja ele qual for, requer método.

Pessoas leigas confundem a aparência dos livros com a essência de seus conteúdos. Quem não lê não consegue entender a diferença entre um livro que trata de dragões e contos de fadas, com 900 páginas, e um de sociologia, que trata, por exemplo, sobre métodos de mensuração do impacto de um determinado fenômeno social em um determinado grupo de pessoas, ou então, uma nova corrente filosófica que trata de um assunto áspero por meio de um livrinho fino de 70 páginas. Para o leigo, o livrão sobre dragões é mais complexo que o texto filosófico ou sociológico pelo simples fato de ter mais páginas e demandar, aparentemente, mais tempo para ser lido.

Mas, nós, que somos alfabetizados e fomos incentivados ao hábito de leitura, mais ou menos, de acordo com a qualidade do ensino que tivemos, sabemos que há livros de lazer e há livros de trabalho, de aprendizagem. Há livros fáceis, e há livros difíceis.

O que não aprendemos é como enfrentar livros difíceis. Quer dizer, aprendemos sim, a enfrentar livros difíceis, mas não no começo de nosso processo de aprendizagem. Nos primeiros anos de nosso processo de educação formal, mas escolas, não temos como tarefa estudar em livros duros e complexos. No mais das vezes, temos de estudar os livros didáticos, que na própria essência, são livros de conteúdo simples, resumidos, em linguagem básica e sem grande profundidade.

Somente na faculdade é que teoricamente nos defrontaremos com livros científicos, e então receberemos antes um treinamento de como abordar tal tipo de estudo. Em geral, este treinamento vem sob o nome de Metodologia Científica. Em geral, também, este treinamento se resume a um verniz fino que nada tem de metodológico. Volta-se para a elaboração de trabalhos e monografias, regras ininteligíveis sobre tamanhos de papéis e outras superficialidades mais, que na verdade é um manual de redação, e não de entendimento do método científico em si.

Então, poucos sabem realmente abordar com método um livro difícil. Quer dizer, poucos sabem os passos a serem dados para se assimilar um assunto complexo e técnico.

Acontece que livros de auto-ajuda são na verdade livros de psicologia aplicada, e como tal, também não são livros de leitura meramente de lazer. Ninguém lê um livro de auto-ajuda para passar o tempo. Em geral, espera-se aprender algo com eles.

Mas os livros de auto-ajuda não são livros científicos, no sentido estrito da palavra. Eles usam conhecimentos científicos, em geral, mas eles não são escritos em linguagem científica. Pelo contrário, eles são escritos como romances, de maneira a tornar a leitura fácil mesmo para aqueles que não são acostumados a ler. E em geral, quem lê acaba lendo-os como quem lê romances. E esquece que precisa estudar o tema, aprofundar-se nos ensinamentos, reler, enfim, precisa retornar ao livro vezes e vezes seguidas, e aplicar aquilo que se propõe a aprender. Se não fizer isso, a mera leitura será perda de tempo. Será uma leitura prazerosa e interessante, mas a pessoa não dominará aquilo que se propôs a dominar, e portanto, não ajudou-se por meio do livro. Este foi apenas um passatempo, um entretenimento, e nada mais.

Quando li Og Mandino em 1990, eu não havia ainda estudado em uma faculdade. Não sabia nada de métodos de aprendizagem. Tudo que fiz foi ler o livro como um romance.

Não posso dizer que não aprendi nada, mas foi uma leitura que gerou mais emoção que propriamente conhecimento.

Ainda assim, um pequeno fragmento do livro fixou-se em minha mente.

Foi uma lição de Michael LeBoeuf, no capítulo 24, página 262. Esta foi uma lição simples, mas inesquecível. O autor, tratando de organização, dentre várias sugestões sobre ordem, limpeza e métodos no trabalho, nos aconselhava: pense com um lápis à mão.

Esta lição pareceu-me tão importante que a adotei definitivamente.

Eu odeio perder uma boa ideia. Eu odeio esquecer-me de uma boa ideia. Eu odeio ter uma ideia que acho que é nova para então recordar-me que a tive já a muitos anos atrás, mas que não a desenvolvi porque esqueci de anotá-la em algum lugar qualquer. Eu odeio mais ainda quando ouço que alguém ficou milionário com uma ideia que eu sei que já tive, idêntica ou melhor, a dez anos atrás, e que poderia ter desenvolvido para meu próprio proveito, mas que nunca o fiz, porque tive esta ideia em um momento qualquer em que não me dei ao trabalho de anotá-la, e a ideia me fugiu como um peixe liso, e acabei me esquecendo dela até então, só me recordando que a tive porque o sucesso alheio a fez voltar à consciência, como um peixe que pula em nosso barco como por milagre, e este peixe vem para me atormentar, e dizer: "viu só? Você poderia ter ficado milionário se tivesse me prendido da primeira vez..."

E então, eu tenho pensado com um lápis à mão, pode apostar.

Não sei se vou ficar rico com minhas ideias, mas eu sei que uma ideia não me escapará por falta de papel e lápis, e de rapidez em perceber que é uma ideia boa o suficiente para merecer minha atenção imediata, e ser anotada.

Sim, eu ando com um lápis à mão, mesmo sem pensar.

Nunca se sabe quando um peixe pulará no seu bote, uma vez tendo se posto na água.

E todos somos, querendo ou não, pescadores de ideias.

Então, aprenda com LeBoeuf: não perca seu peixe!

5 comentários:

  1. seguindo o blog...

    passei por problemas com meu blog e estou começando praticamente do zero - em relação à seguidores - se puder seguir a fanpage do blog, seguir no twitter ou assinar com e-mail ficarei muito feliz!

    http://jacbagis.wordpress.com

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  2. vc n fica rico tendo uma boa ideia, vc fica rico se vc tem a ideia e executa ela primeiro

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  3. se a ideia não for boa, não tem como executá-la e ficar rico...

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