Acabei de ver uma entrevista com Paulo Coelho, na Rede TV!, com Kenedy Alencar.
Pois bem: talvez eu até não goste de alguma coisa nos livros dele, mas gosto dele, definitivamente.
Na verdade, estou sendo injusto.
Li apenas um único livro dele, "O Alquimista", e pensando bem, não é uma história ruim. Na verdade, na época em que o li, por volta de 1996, eu não gostei principalmente do estilo literário dele, que não era assim tão rico quanto um Victor Hugo ou um Proust. Não sabia que na verdade ele não está nem aí para estilos literários. Na época, eu pensei que eu próprio poderia tranquilamente escrever o mesmo livro de uma maneira bem mais elegante. Mas pensar algo é uma coisa, e fazer algo é outra coisa, bem diferente.
A verdade é que, bem ou mal escrito, com elegância ou não, Paulo Coelho conquistou o mundo e isso é digno de todo crédito. Vendo-o, penso no grande trabalho que teve em se tornar o escritor que é em um país que lê tão pouco. Mas ele fez mais que isso: ele é lido no mundo todo. Sempre digo que se tivesse uma cesta para colocar apenas cinco ou seis brasileiros vivos e dignos de serem admirados pelos seus feitos, eu incluiria Paulo Coelho no grupo. Quem mais? Não importa agora. Paulo Coelho tem lugar certo entre os brasileiros que gosto e admiro. Claro, na cesta nem sempre é preciso entrar pessoas que eu tenha necessariamente de gostar, mas isso não importa. Gosto de Paulo Coelho.
Mas Paulo Coelho mesmo explica essa minha mudança de gosto.
Na verdade, a coisa tem mais a ver com Raul Seixas que com Paulo Coelho.
Todo mundo que gosta de rock e viveu sua adolescência na década de 80 sabe que Raul Seixas foi um cara controverso. Mas não sei se toda essa legião de ex-adolescentes sabia na época que Raul Seixas, um cara já consagrado nos anos 70, tinha como parceiro de letras o nosso querido Paulo Coelho.
Então, eu tinha uma certa antipatia por Raul Seixas e seus fãs, mas o que me irritava mesmo eram as letras de Paulo Coelho, que eu não sabia na época que eram de Paulo Coelho.
Quando Paulo Coelho surgiu como escritor de romances de ficção de cunho espiritual, eu estava em outras praias, aprendendo a escrever minhas próprias coisas. Desdenhei sua maneira simples de escrever.
Agora, admiro-o, o homem, embora admito que nunca mais li nada dele além de "O Alquimista".
Mas ele, o homem, também mudou. Falando sobre drogas nesta mesma entrevista, foi de uma honestidade transparente. E me surpreendeu ao afirmar que nas atuais condições, era contra a liberação de drogas como a cocaína. Ele julgou-se tendo opiniões caretas. Ora, meu caro Paulo Coelho, não há nada de errado em ser careta. Não é que sejas careta: é que és uma metamorfose ambulante.
Se é assim, então sou também essa metamorfose ambulante. Talvez eu leia seus livros, talvez não. Temos interesses comuns. Embora que sejamos de lugares e de gerações diferentes. Também adoro escrever. Amo os livros. Admiro a sinceridade e acredito em quase tudo o que não posso ver, do Aleph ao Cristo. Há verdades que não carecem de provas. E se me pareceu em algum momento que falavas de algo diferente em uma língua diferente, foi leve engano, perdoável aos jovens, naturalmente arrogantes. Falamos na mesma língua e sobre os mesmos signos, apenas isso. As coisas tendem a convergir para um centro onde tudo faz sentido.
Assim, desejo vida longa e sucesso a esse bravo, que armado apenas de sua enorme força de vontade e muito trabalho, conseguiu provar a ele mesmo que pode fazer a chuva cair sobre o deserto.
E já não havia antes alguém que dissera que a fé poderia mover montanhas?
Eu prefiro ser... eu prefiro... eu escolho... eu decido... gostar de Paulo Coelho!
Agora, fé!
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