04/04/2008
Uma vida ingênua
É um fato consumado que passamos grande parte da vida sob a ameaça de riscos os mais diversos.
Quando nascemos, somos frágeis e só sobrevivemos porque somos protegidos pelo mundo à nossa volta. As primeiras lições que aprendemos ainda engatinhando é que não devemos fazer isso, não devemos tocar naquilo, não podemos ir a tal lugar, e que o mundo é um lugar perigoso.
Mais alguns anos, e vamos às escolas aprender a ler, escrever e somar, mas continuamos ouvindo as mesmas recomendações. Não fale com estranhos, cuidado ao atravessar a rua, olhe onde pisa, cuidado com escadas, não saia sem avisar, não coma nada que não saiba a origem, fique longe de encrencas.
Depois, quando chegamos à adolescência, passamos a desafiar todas essas lições.
E depois ainda, achamos que somos adultos preparados e paramos de nos preocupar.
A grande mensagem que fica gravada em nossa mente é esta:
“Não vai acontecer comigo”
O que não paramos para pensar é que só chegamos à vida adulta porque tivemos pessoas cuidadosas à nossa volta, instituições seguras onde freqüentamos, lares e ambientes saudáveis onde pudemos crescer razoavelmente sem problemas.
É verdade também que nem todos tiveram essas condições, mas se uma pessoa cresceu em um ambiente perigoso, então grande parte do mérito por estar vivo como adulto se deve mais à sorte que a qualquer outra habilidade sua.
Um adulto nunca pode esquecer que os tempos são outros. Na época em que era criança, a vida era mais fácil. Não havia tanta gente no mundo. Os valores não estavam tão deteriorados. Havia algum controle social.
Hoje, as coisas são infinitamente mais difíceis.
Aceitar que a vida antes era mais fácil significa aceitar também que a maneira despreocupada com que fomos criados não vale mais para os dias de hoje.
Em outras palavras: aceitar que o mundo de hoje é mais perigoso que o de ontem implica em admitir que não fomos educados para enfrentar os riscos de hoje.
E se admitirmos que não estamos preparados para os riscos de hoje, então como é que conseguimos sobreviver?
Mais uma vez, não se deve atribuir o sucesso a algum mérito pessoal. Basicamente, sobrevivemos sem estar preparados mais devido à sorte que a qualquer outra coisa.
Mas essa situação pode ser mudada.
Talvez haja muita coisa que se possa aprender ao longo do tempo, mas a mais importante deve se a lição que quebra a vidraça embaçada que não nos permite ver a realidade. E essa vidraça quebrada mostrará que há riscos, sim, e muitos. A lição seria algo como:
“Se acontece com os outros, pode acontecer comigo também”
Já é um excelente começo admitir que a frase acima está correta.
O simples fato de aceita-la pode lhe salvar a vida.
Escrito por Rosenvaldo Simões de Souza às 10h51
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