sábado, 17 de novembro de 2012

Aviões, mortes e o mau

Eu também disse aqui mais alguma coisa sobre aviões: 

"Mas show mesmo no céu foi a passagem por sobre Goiânia, numa tarde nublada dessas, de uma esquadrilha de oito caças da FAB. Uma formação em V, com cinco AMX na parte interna e dois Mirage nas laterais. Um terceiro Mirage, vários quilômetros mais atrás, retardatário, acelerando quase que a ponto de quebrar a barreira do som buscando alcançar os demais. Um show! Passaram e se foram em poucos segundos."

Eu já fui um sargento da Força Aérea Brasileira.

Acho que aqueles pontinhos em forma de grãos de arroz fascinaram-me de tal maneira que eu acabei querendo ser piloto. Não pude ser piloto militar, mas mesmo assim, achei que seria uma opção ser militar na Força Aérea. Com o tempo, a opção mostrou-se errada. Eu deixei a vida militar em 1995. Em 2004, quando postei o comentário acima, eu morava em Goiânia. Mas eu servi como sargento em Anápolis, a apenas cinquenta quilômetros de Goiânia. Eu conhecia bem aqueles aviões.

Hoje, não sei o que dizer sobre aviões militares.

Claro, são máquinas fantásticas, lindas e poderosas, mas estão a serviço de quê?

Eu amadureci, e sei mais hoje do que sabia quando era adolescente e decidi seguir a carreira militar. Sei que estas máquinas existem para matar.

Elas estão matando agora, neste exato momento em que estou teclando essas palavras. Israel está certamente com poderosos caças armados bombardeando a Faixa de Gaza, hoje, agora, não há dúvidas. E a imagem de um bebê de dez meses embrulhado em um lençol, filho de um jornalista da BBC, rodou o mundo, numa demonstração de dor e pesar, demonstrando claramente para todo o planeta o que esses belos equipamentos são capazes de fazer.

Mas eu sei também que aviões são apenas isto: máquinas nas mãos de homens. Por trás de um bebê morto há pessoas com ideias. Este pobre bebê não foi morto por um F-16 com um míssil guiado a laser. Ele foi morto muito antes, pelas ideias que dominam o mundo a séculos, milênios, como demônios aos quais não podemos ver, nem controlar, nem fugir.

Estes demônios rondam o mundo, e eles rondam a minha casa. Rondam a nossas casas.

Aviões militares são apenas isto: a materialização do mau.

São demônios que não podemos ver. Mas eu tenho certeza de que, apesar disto, nós podemos vencê-los.

Nenhum comentário:

Postar um comentário