domingo, 21 de outubro de 2012

A indignidade da pobreza

Está certo que não escolhemos como chegamos ao mundo. Também está certo que uns são mais sortudos que outros. E também está certo que por longos anos somos pessoas limitadas, imaturas, e não somos capazes de cuidar de nossa própria vida.

Um lugar no mundo é o que eu quis quando tomei consciência de que era pobre. Eu achei ser a coisa mais injusta do mundo ter nascido pobre, enquanto algumas pessoas que eu conhecia eram ricas somente porque tiveram a sorte de terem nascido em meio a famílias ricas.

Houve um momento em que eu resolvi que não poderia simplesmente me conformar com a situação na qual vivia.

Houve um momento em que eu senti vergonha de ser pobre.

Houve um momento em que eu achei a pobreza uma situação indigna de se viver.

Houve um dia em que eu me rebelei contra a miséria.

Houve um dia em que, rebelando-me contra a miséria, eu me rebelei contra o próprio Deus.

Houve um momento em que descobri que Deus nunca desejou minha pobreza.

Houve um momento em que descobri que muitos antes de mim já sabiam que Deus nunca quis nossa miséria.

Se Deus nunca quis nossa miséria, então quem quis?

E se ninguém nunca quis a nossa miséria, por que éramos miseráveis?

Sim, houve um dia em que eu percebi que há, sim, pessoas que querem a nossa miséria.

Há sim, eu descobri, pessoas que lutam para que continuemos sempre em nosso eterno estado de miséria.

Há pessoas que, se pudessem, teriam eternamente suas botas sobre nossas caras.

Na minha, não.

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