Eu citei aqui uma frase sobre o tédio em nossas tardes de domingo.
Parece que não há nada de interessante a se fazer numa tarde de domingo.
Analisei em mim mesmo a existência desta suposta sensação de tédio e não a encontrei.
Encontrei o cansaço que ainda persiste mesmo numa tarde de domingo, embora já tenhamos desfrutado do nada fazer na sexta à noite e no sábado todo.
Então, com tanto tempo para descansar, por que o meu cansaço insiste em se prolongar até as tardes dos domingos, ocupando o espaço de outra sensação que, se não fosse ocupado pelo cansaço, o seria, justamente, pelo tradicional e merecido tédio?
É que não há em mim hoje em dia muito espaço para o tédio. Não há tempo para o tédio. Aliás, nem mesmo há o suficiente para o descanso. Tédio, então, é um luxo.
É exatamente esta falta de tempo que me faz desejar a eternidade. A vida é curta demais para se fazer tudo.
No domingo, olho com um olhar vazio meus possíveis afazeres, e me pergunto: mas dá tempo de se tentar fazer algo que seja possível de ser feito apenas no exíguo período de tempo de uma curta tarde de domingo?
E concluo que não. E meu olhar perdido parece tédio, mas não é. Sei que minha desolação pode até parecer a olhos alheios que seja tédio, mas é algo fundamentalmente diferente.
Desolação? A desolação que confunde-se com o tédio vem de onde? E por quê?
Ela vem da convicção que tenho de que somos escravos de um modo de vida que não é nosso. Não é humano. Tem a ver com trabalho, e com falta de tempo, e com cansaço. Vem do fundo da alma, e é como um aviso de um vulto negro esguio e encapuzado, e mau, que sussurra em meu ouvido: "nada há que possa fazer, que o liberte de ser consumido".
E eu esperneio, como um cordeiro entre dentes, e anseio a eternidade, fraco, e cansado demais para me libertar numa simples tarde de domingo.
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