Depois de me propor a parar de fumar, usar agendas com papéis reciclados e aproveitar melhor as sacolinhas de compras dos supermercados, fui forçado a pensar num quarto meio de contribuir para a preservação da natureza.
Então, como vivíamos a época do risco do apagão energético do governo FHC, nada mais óbvio a ser feito: economizar energia elétrica.
Certo, mas como? Deixar de tomar banho? Viver no escuro? Não ver tv ou internet?
Não, eu não consegui pensar em nada muito sofisticado na época, porque morava num cubículo que não consumia quase nada de energia.
A única ação sensata que pensei foi substituir minhas lâmpadas incandescentes comuns por lâmpadas eletrônicas mais econômicas, duráveis e caras.
Deu algum resultado? Não sei. Não há maneiras reais de se medir o impacto de ações individuais isoladas como essa.
Depois, minha vida foi se incrementando, fui mudando para casas maiores, comprando mais bugigangas elétricas e hoje pago uma fortuna de energia. Não sei se ainda vivemos tão intensamente o risco dos apagões, mas aquela época foi importante para o aprendizado do brasileiro em geral, que passou a ser mais racional em relação a energia elétrica.
Continuo usando as lâmpadas eletrônicas, agora um pouco mais baratas. Acho que o cidadão deve mesmo fazer seu papel e economizar o que puder, mas acho que há limites e no fim não há jeito: temos de construir mais usinas. Isso lembra um pouco esses joguinhos de administração de cidades e fazendas, como Sim City ou Farmville, mas o que posso mais pensar? Que viveremos sempre neste mesmo patamar de consumo?
Claro, novas tecnologias irão reduzir o consumo com energia através de produtos mais econômicos, mas enquanto isso, vamos consumindo, sem medo de apagões.
Isso me faz lembrar uma reportagem que vi uma vez nesses programas de notícias na hora do almoço, quando normalmente vemos os repórteres locais fazendo matérias pouco importantes, mas curiosas.
Um repórter se preocupou em falar do tema da economia popular. Como as pessoas podem ser econômicas. E, evidentemente, a coisa descambou para o anedotário. Logo, falou-se dos avaros, os miseráveis, os mãos-de-vaca, aqueles que economizam não só por necessidade, mas por prazer ou por vício.
Esse é um assunto sério e falaremos mais dele futuramente, mas voltando à reportagem, o repórter chegou, através de indicações de vizinhos, a um senhor pobre e simples, morador daquelas cidadezinhas do interior, morando numa daquelas casinhas simples, com móveis usados e velhos.
Não era só uma questão de economia, mas de vício, mas um vício de um viciado singelo e digno de compaixão, porque simples e realmente sem muito dinheiro.
O senhor em questão, um velhinho magro de uns sessenta e poucos anos, com a aparência desgastada pela vida, se orgulhava de seu hábito. Por fim, o repórter pediu um exemplo de sua diligência em economizar.
O velhinho então chegou na salinha de sua casa, pegou o relógio dependurado na parede e o virou de costas. Colocou então duas pilhas pequenas no aparelho e ele começou a funcionar. O repórter perguntou o que aquilo significava e ele disse que pilhas custavam dinheiro. Logo, não fazia sentido o relógio ficar funcionando, mostrando as horas para ninguém e consumindo as pilhas se o morador não estava em casa. Assim, sempre que saia, ele tirava as pilhas, e quando voltava, recolocava as pilhas, acertava o relógio e a vida seguia adiante.
Há alguma lição profunda a ser aprendida nessa história.
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