Eu tento ser produtivo, mas não é fácil.
Ontem passei o dia todo correndo de oficina em oficina para resolver pequenos problemas no meu carro, que não é novo, nem perfeito.
Primeiro, anteontem, um som frouxo e rangidos no pneu dianteiro direito. Pneu murcho? Paramos em um posto e calibramos o pneu. Mas o barulho continuou.
Calota frouxa? Pode ser. Evito, mas eventualmente acabo esfregando os pneus no meio-fio, na pressa de sair do caminho, nas ruas superlotadas desse mundo moderno, onde há um carro para cada dois seres humanos.
Arranco a calota e o ruído diminui, mas não de todo. Devo procurar um mecânico no dia seguinte. E assim faço. Vou à primeira loja. Troco todas as calotas. Depois, vou à segunda loja e troco uma lâmpada queimada. Depois, vou a uma terceira loja, e mexemos na suspensão, no escapamento, mas nada. O rangido continua. Vamos embora, porque já é noite. Tentamos ainda uma quarta loja, num shopping, e lá eles tentam um quarto caminho, e dizem que o problema acabou, mas vamos embora às dez da noite e o maldito rangido continua.
Nesse meio tempo, eu poderia ter feito grandes progressos em um monte de áreas importantes de minha vida, mas não fiz.
Cuidar do carro é urgente.
Mas é importante? Ora, todos os manuais de administração do tempo são claros: é preciso distinguir o importante do urgente. Eu digo que os manuais precisam de um pouco mais de profundidade. Essa distinção simplesmente não funcionou ontem.
Não funcionou porque a vida não é fácil.
Não há um único manual de administração que fala em entropia. E os manuais não falam porque esse não é um conceito de ciências sociais, mas de ciências da natureza, da Física, mais apropriadamente.
Mas, sem entender a entropia, fica difícil entender que devemos passar fios dentais diariamente, assim como devemos manter nossos carros seguros, ainda que não salvemos o mundo.
Somente a entropia explica que a continuidade da vida requer esforço, muito esforço.
Se os administradores e economistas conhecessem melhor o conceito de entropia, a vida poderia ser melhor.
Coisas urgentes são importantes. São urgentes exatamente porque são importantes!
Ou não?
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