segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Das cavernas ao Século XIX

Eu prossegui em meu relato:

"Eu disse que poderia falar sobre tudo que já ocorreu no passado para justificar eu ser quem sou. Disse também que este raciocínio é errôneo, de forma que resolvi me restringir a iniciar minha história contando a partir daquilo que sei dos meus antepassados mais remotos. Senão, vejamos.

É possível e provável que haja milhões de nomes em livros e registros, de pessoas que já existiram, com datas de nascimento e de morte. No entanto, esses nomes nada me dizem, e não conheço suas histórias de vida. Se alguém foi herói ou bandido, famoso ou desconhecido em sua época, pouca relação tem comigo, se não sei quem foi e se ainda não tenho conhecimento de que eu tenha algum vínculo com ele. Os méritos e deméritos deste alguém são somente dele mesmo. Podem significar muito, mas como causas explicativas para elucidarem quem sou não significam nada, a menos que eu tenha algum parentesco com ele. Quer dizer, o passado de alguém que já não vive só me dirá algo se esse alguém for algum meu antepassado. Sua vida, se conhecida, ajudará a me fazer entender um pouco desse mistério que me atormenta, e do qual não consigo me despregar. 

Mas eu vim ao mundo não como fruto de qualquer par de seres humanos, de qualquer pai e mãe. Eu vim como fruto de um pai e uma mãe bem definidos. Eu nasci em uma época em que podemos registrar a sequência de nascimentos e mortes. Eu não sou o único humano que nasceu do mesmo casal, mas sou decididamente filho de um casal específico.

Mas meus pais também são filhos de pais específicos. E meus avós também.

Então, em qual momento perco o fio da linha que me liga ao primeiro dos casais, ao Adão e Eva primordiais?

Eu perco a linha no momento em que não tenho nenhum nome a identificar alguém em especial como um ser humano do qual descendi seguramente.

Eu tenho milhares de ancestrais desconhecidos, isso é certo. Mas nada sei deles. Então, como posso contar suas histórias, se não sei quem foram?

Mas, de certa forma, sei alguma coisa sobre meus antepassados. Sei o suficiente para retroceder no passado até aproximadamente o ano de 1820. Mas por que 1820?

Porque, embora não tenha documentos para provar, tenho na memória o relato oral de pessoas que asseveraram ser este o passado, e prefiro me fiar nesses relatos a limitar minha história ao que os documentos comprovam.

Mas tem um entrave em simplesmente eu sair contando o que sei sobre algum antepassado remoto que tem suas origens por volta de 1820. É que as pessoas vivem dentro de contextos históricos. As pessoas nascem em países que passam por crises, em momentos em que a vida requer decisões sérias, ou simplesmente vivem em épocas em que as coisas só poderiam ser explicadas com base em um contexto histórico próprio. Eu não poderia, por exemplo, dizer que um parente antigo veio à América. Veio como? Ora, se veio no século XIX, certamente não veio em um vôo comercial. Essa informação não foi inserida nos relatos orais aos quais tive conhecimento, mas são dedutíveis dentro de um contexto maior, e precisa ser contada, sob o risco de termos uma história fantasiosa, margeando o reino dos contos mágicos medievais. Na verdade, é com este clima que as pessoas costumam falar de antepassados obscuros e misteriosos. 

O passado em geral é de fato brumoso quando se trata do passado de pessoas comuns. Não culpo os narradores de histórias orais, sejam quem forem, por não saber narrar os detalhes que fazem com que uma história pessoal faça sentido dentro de um contexto histórico maior. Vivemos em uma época onde a informação é fácil, mas não se pode esperar que pessoas mais velhas e menos instruídas dispusessem dessa facilidade quando vivendo em décadas passadas em um país tão pobre quanto foi o Brasil. Assim, na medida do possível, tentarei corrigir essa distorção, clareando a bruma com fatos históricos contemporâneos às histórias que contarei.

Rumo às brumas, então. Rumo a algum lugar do tempo, por volta de 1820, que é o momento no qual mais profundamente posso retroceder, sem que passe da lenda à invenção e à ficção desavergonhada e pura. "

Este final foi em parte adaptado deste post

Um comentário:

  1. Isso vc tem razão amigo fazer back up de tudo ´eo recomendavel
    http://quebizarrice.blogspot.com.br/2012/11/gee-girls-generation-vs-showa-generation.html

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