Apesar de eu ter feito aqui uma série de perguntas sobre onde nossa história começa, eu também fiz perguntas semelhantes aqui:
"Depois de algumas tentativas, percebi que contar a história de uma vida, qualquer vida, é mais difícil do que parece.
A razão dessa dificuldade é que não sabemos quase nada sobre o que ocorreu antes de existirmos. Eu particularmente não sei o suficiente para atender a minha própria curiosidade, e simplesmente não vejo meios de suprir essa falta de conhecimento.
A partir de que momento começa nossa história pessoal?
Começa a partir do dia em que nascemos?
Começa a partir do momento em que começamos a construir e consolidar nossas memórias em nossos cérebros?
Começa nove meses antes de nascermos, quando fomos concebidos, no dia em que nossos pais fizeram amor?
Ou começa com aquele tataravô que veio de um país distante fugindo da morte, e só começa nele porque nada sabemos daqueles que vieram antes dele, e assim, nossa história começa com a história de nossos antepassados, de acordo com nossa árvore genealógica?
E, se nossa história pessoal está amarrada a nossos parentes distantes no tempo, por que não começar logo com Adão e Eva?
Saber por onde começar nossa história pessoal não é uma questão fácil de se responder."
Mas a verdade é que, embora saibamos que somos descendentes de pessoas que viveram a centenas de gerações antes da nossa, não sabemos quem foram essas pessoas. Daí eu concluir que só posso falar em "minha" história até o ponto em que tenho uma informação que me liga com segurança ao passado. Quando digo "minha", na verdade digo minha pessoalmente, mas também de meus familiares que estão ligados no mesmo ramo de ancestrais. Meus irmãos compartilham da mesma história que eu, antes de termos nascido. Primos também. Pais, tios, avós.
Mas há um momento no passado em que não podemos dizer que sabemos quem foram pais, irmãos ou qualquer parente de uma pessoa que sabemos quem é, mas não o conhecemos o suficiente para penetrarmos mais a fundo na sua linha de tempo passado. Neste caso, há uma ruptura da narrativa da "minha história", ou "nossa história familiar" e podemos apenas deduzir certas coisas a partir da História geral. Se tenho um ancestral negro, deduzo que ele teve uma mãe e, apesar de não saber quem foi sua mãe, posso presumir que ela também era negra e provavelmente veio da África, e, dependendo do que mais sei, posso dizer se meus ancestrais eram de tal ou qual região da África, e sua provável religião, mas isto é quase tudo. Neste caso, essas deduções fazem parte provável de "nossa história familiar", mas também faz parte da História geral dos povos.
Se soubéssemos com perfeição toda nossa genealogia, chegaríamos a Adão e Eva. Mas isto é impossível. Sei que sou descendente de Adão e Eva, mas também, sei que todos são. Logo, isto é conhecimento comum e não precisa ir para a minha biografia.
Mas eu sou descendente de Adão e Eva, e isto, apesar de tudo, merece ser comentado.
Sim, mas não como um fato autobiográfico.
Biografias não comportam trivialidades.
Esta é uma boa regra para se começar algo, tal como desenrolar este novelo de lã que é o entendimento do porquê as coisas são como são comigo e com muitos semelhantes a mim.
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