Eu disse aqui que o universo não é teleológico. Ele não tem um desejo, uma missão, um fim. Meus antepassados não mudaram-se de seus países simplesmente para que eu pudesse nascer em Tujuguaba. Nem Napoleão iniciou suas guerras para que portugueses mudassem para o Brasil, e assim, eu pudesse nascer brasileiro.
Eventos são cegos. O universo é cego. Grande parte das coisas somente ocorre por acaso.
Eu conclui, em meu texto:
"O universo não existe somente para que eu exista.
Então, os fatos do passado devem ser encarados como capazes de influenciar a todos, sem distinção. E sendo assim, não narrarei fatos históricos que são conhecidos dos historiadores, como a conquista da América, o ciclo do café no Brasil ou a Segunda Guerra Mundial. Vou me ater ao que a história ainda não contou, e não contará.
Essa é a forma mais correta, no meu entender, de se falar sobre o meu passado e do passado de meus antepassados conhecidos.
Ainda assim, essa tarefa, bem mais simples agora, não é nada fácil.
O meu passado antes de mim, quer dizer, o passado do lugar onde nasci e dos meus parentes remotos, não me está acessível.
Inicialmente, é preciso deixar claro que eu não sou um historiador. E este texto não tem a intenção de traçar a evolução histórica de uma pequena comunidade. E embora o título desse trabalho seja uma homenagem à pequena comunidade onde nasci, eu não pretendo, e nem posso, contar a história dessa comunidade, porque não tenho o conhecimento suficiente para tal. Ademais, provavelmente não conseguiria, ainda que tentasse. Vejamos o porquê.
Eu sai de Tujuguaba com 14 anos de idade e simplesmente não tenho mais contato com ninguém por lá. Nem mesmo com minha família, que ainda mora por aquelas bandas. Assim, a cada dia que passa, maiores as chances de que o pouco que resta da memória do passado de Tujuguaba se perca pela morte de pessoas que ainda têm recordações importantes a serem registradas. Um lugar pequeno como Tujuguaba simplesmente não tem registros históricos escritos. Tudo se resume a lembranças de pessoas velhas, fotografias antigas, documentos velhos que não possuem significado fora de seus contextos, tudo aliado ao pouco interesse das pessoas mais jovens em entender e preservar esse pequeno manancial cultural.
O que posso fazer? Nada. Eu não posso fazer este trabalho."
Eu não posso ser historiador sem documentos. Eu não posso alegar coisas que não posso provar. Escrever com base somente em memórias não é História; é somente biografia e memória, carente de provas. Quem lê, acredita ou não, se quiser.
Quem sabe agora com a tecnologia, e as redes sociais, pessoas que viveram ou ainda vivem na região possam contribuir disponibilizando documentos digitalizados na Internet.
Seria uma contribuição de grande valor.
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