Eu continuei meu texto sobre meu passado assim:
"Ah, mas como seria tudo mais simples se eu pudesse apenas conversar com as pessoas! Se não pretendo escrever um trabalho histórico, poderia ao menos matar minha curiosidade sobre o passado do lugar onde nasci simplesmente conversando com as pessoas mais velhas que ali viveram.
Mas isso não existe mais.
É verdade: a conversa desapareceu. Sou testemunha disso e afirmo com toda a categoria essa realidade. Ninguém mais está disponível para uma simples conversa que dure mais do que dez ou quinze minutos, por mais prazerosa ou importante que ela seja.
A correria do mundo nos engoliu.
As pessoas têm compromissos, precisariam fazer milhares de coisas ao mesmo tempo e o diálogo não faz parte de nenhuma lista de prioridades. Os telefonemas custam caro e os bate-papos on-line não são nem uma sombra do que seria um papo verdadeiro em uma sala ou cozinha, regada a bolos e xícaras de café em uma tarde tranquila de um fim de semana comum.
Não a culpo, a vida moderna. Ela é assim mesmo. Afinal, o passado é apenas o passado. As pessoas têm mais o que fazer além de ficar revirando o passado.
Assim, meu trabalho de registro deu-se aos trancos, e tão falho quanto um pente velho. Também não me culpo. A vida é dura para com aquilo que já passou, e todo tempo é escasso.
Achei que o melhor a fazer seria garantir o que vivi pessoalmente, tentando registrar memórias sobre o que vivi, vi e ouvi falar de meus antepassados até onde foi possível retroceder no passado obscuro. É verdade que não é nada tão antigo ou espetacular, mas a memória era a única fonte a qual eu tive acesso ilimitado e é fonte ainda razoavelmente confiável e disponível.
Precisei escrever com uma certa urgência, buscando tirar proveito da memória ainda firme, ou antes de perder o interesse pelo assunto. Afinal, evitei deixar para escrever depois de velho, temendo correr o risco de ver o interesse pelo assunto desaparecer, sobrepujado pelas tarefas da terceira idade. Melhor garantir as memórias enquanto elas ainda possuem algum valor.
Eis o que consegui juntar."
Na verdade, o que escrevi foi uma adaptação desta postagem.
Mas as coisas estão mudando. O Facebook abriu novas possibilidades. Podemos, sim, conversar sobre os velhos tempos, embora que não pessoalmente.
Veja só como de fato algo que parece ter acontecido ontem já faz parte dos velhos tempos: eu disse aqui que meu sobrinho acabava de nascer. Pois bem, ele tem hoje oito anos. Daqui a alguns anos ele será um adolescente, e logo mais, um adulto.
Eu serei um velho.
Assim, precisamos conversar sobre os velhos tempos.
Urgentemente.
A agilidade da informação matou as relações pessoais.
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