domingo, 25 de novembro de 2012

País do futuro?

É preciso ser realista com a vida na medida em que se vai envelhecendo. Muitas das aspirações juvenis desvanecem-se ao longo dos anos, e as esperanças de um futuro melhor, ao menos aqui, no Brasil, vão minguando dia a dia, para nós que já vivemos bastante, e estamos envelhecendo.

Eu disse certa vez neste blog:

"Fui registrar ocorrência na delegacia de polícia de plantão, e, pensando no que significa tudo isso a longo prazo, perdi a esperança no Brasil.

Para dizer a verdade, nunca acreditei um segundo sequer nessa ladainha que venho ouvindo desde que tenho seis anos de idade, a de que o Brasil é o país do futuro. O Brasil, agora tenho certeza, foi, é, e sempre será, um fracasso. O último que sair que apague a luz."

Esta frase é triste e amarga. Para as pessoas que amam este país, e anda não viveram o suficiente para perder parte da esperança, ela soa como uma declaração maldosa e fria.

Mas não estamos falando de torcer pelo país da mesma maneira que torcemos por um time de futebol. O Brasil, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas a Seleção Brasileira de Futebol.

As pessoas tendem a depositar esperanças no país da mesma maneira que depositam esperança na Seleção para a próxima Copa. Há uma sensação de que tudo depende de um pouco de garra, fé, esperança e uma equipe entrosada de astros jogadores. Mas a vida real não é bem assim.

Um país tão grande e com tanta gente diferente, com valores diferentes e culturas diferentes não muda de um dia para outro. Ele nem muda de uma década para outra, apesar dos carros novos que circulam nas ruas dando a impressão de modernidade, nem muda em função de um mendigo circular pelas ruas com um iPhone novinho em folha.

Também não se pode confundir o Brasil com as imagens que o Governo publica nos intervalos dos programas de televisão, que sempre mostram as mesmas coisas: plataformas de petróleo, grandes rodovias, os aviões da Embraer e dezenas de colheitadeiras ceifando em conjunto aquele mar de soja em alguma planície longínqua no interior do Mato Grosso. As pessoas se empolgam com imagens assim, e acreditam realmente que o Brasil é um país muito rico e moderno, e se enchem de orgulho ufanista, como se tudo estivesse indo muito bem, graças à garra do povo brasileiro, que não desiste nunca.

A afirmação acima é amarga. Não tenho bola de cristal para saber como será o futuro, mas tenho livros de história que mostram o passado de maneira fria e isenta. Esses livros deixam claro que países são apenas frutos de seus povos, e nada mais. Não há país sem povo, e não há país moderno com povo atrasado, assim como não há povo moderno em país atrasado. O país é sempre a soma do povo, por mais que digam o contrário.

Na medida em que uma geração envelhece, passa a ver um limite temporal pela frente. As pessoas começam a fazer contas a respeito do tempo que falta para se aposentarem, e sabem que a partir de uma certa idade, não resta mais tanto tempo para se apostar no país. Pode haver amor pelo país, mas há o amor próprio que cada um tem por si, e que se sobrepõe ao amor pela pátria. As pessoas ainda torcem pelo país, mas se puderem, darão um jeito de procurar lugares melhores para passar os poucos anos que restam de vida.

E assim, aos poucos, os brasileiros que podem vão indo embora do país.

É curioso observar que sempre que ocorre uma tragédia qualquer em algum lugar do mundo, seja onde for, sempre há um brasileiro envolvido. Geralmente algum deles se encontra entre as possíveis vítimas de alguma desgraça mundo afora.

Isto é o sinal de que há uma diáspora silenciosa em curso, e que poucos admitem.

É feio falar mal do próprio país. É ofensivo. As pessoas não admitem que outras pessoas não gostem do próprio país. Elas relutam em aceitar que há países melhores no mundo. Mas a verdade é que o mundo é vasto, e na medida em que mais e mais gente viaja mundo afora por turismo ou negócios, vai se percebendo que há, sim, muitos lugares melhores no mundo em diferentes aspectos.

A crítica que fiz foi com relação à segurança. Acho que é uma crítica justa. Acredito que um país inseguro como o Brasil não é um lugar bom para se viver. Quando mais velhos ficamos, mais nos sentimos vulneráveis à violência generalizada que destroça nosso país. E há, sim, uma grande maioria de países mais seguros para se viver que o Brasil. Nossas tristes estatísticas não incentivam ninguém a viver aqui. Nem mesmo a vir passear aqui, meramente a turismo. Por que correr o risco de ser assaltado no Brasil se posso visitar o Caribe com suas belas praias com total segurança?

Mas o problema da segurança é um problema insolúvel, crônico, que não depende de nossas atitudes a favor ou contra nada. É um problema que se expande a cada dia e que nos trás desesperança e tristeza. E é um problema gerado por brasileiros, alimentado por brasileiros, fomentado por brasileiros, defendido por brasileiros e alvo de lucro de brasileiros. Há um grupo de brasileiros que tem total interesse neste estado de coisas, e mais se beneficiarão quanto pior se tornar a situação. Quanto pior se tornar o país, mais benefícios esse grupo de brasileiros terão. E eles não vão desistir de seus ganhos. E assim, nós, demais cidadãos, perdemos já, definitivamente, o jogo contra a violência.

Se você acha que o problema da violência vai ser resolvido, reveja suas opiniões. O problema vai piorar. Não vou explicar agora as razões deste pessimismo, mas ele não é sem razão, ou sem motivos. Há razões institucionais, estruturais, ideológicas e corporativas para que a violência se amplie. A ameaça vem de dentro do sistema em que vivemos, e não de fora, ou do momento, ou de mera circunstância.

Eu não estou sendo ameaçado por americanos, chineses, russos ou argentinos. Eu estou sendo ameaçado pelos meus próprios conterrâneos. Não podemos confiar em nossos próprios vizinhos, nem em nossos porteiros, nem em nossas empregadas domésticas, nem em ninguém. Todo cidadão tem razões de sobra para temer qualquer um e todos.

A violência está matando o futuro de nossa sociedade. Como nada é feito, e a coisa só tem piorado, a melhor coisa a se fazer é acautelar-se. Mais dia, menos dia, as pessoas vão se aposentar e dar adeus ao país.

Vão-se, para nunca mais voltar. Partirão ameaçados de sua terra natal ingrata para morrer em uma terra estrangeira qualquer mais segura, anônimos, é verdade, mas em paz.

Os bandidos, assim, expulsarão os bons, e no final teremos algo como aquelas ilhas desertas, onde só habitam cobras peçonhentas, que depois de devorarem tudo, devoram-se umas às outras.

Esse é o nosso país do futuro?

2 comentários:

  1. Eu amo meu país... mas um ótimo país quem faz é o povo... e se o Brasil está do jeito que está, é por causa da maioria de sua população... pois que eu saiba, nossos políticos não são de outros país rsrs um país tão lindo e prospero que nosso, merecia uns habitantes melhores... :)

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